O sistema de saúde da Bolívia, no seu limite antes da pandemia, tem visto a sua situação agravada pela falta de remédios, especialistas e vagas nos hospitais públicos. Existem menos de 500 leitos de Unidades de Cuidados Intensivos (UCI).
Segundo avançou na segunda-feira a RFI, há quem opte pelo sistema de saúde privado, arriscando criar dívidas ou não poder retirar os corpos dos familiares em caso de óbito. Num país de 11 milhões de habitantes, em que o salário médio é de cerca de 324 euros, pode chegar aos 65.000 euros manter um familiar hospitalizado durante algumas semanas.
A RFI relatou o caso de Irma, que teve que hospitalizar o irmão e, para fazer face às despesas, vender um automóvel. Já Wilma, cujo pai morreu após 36 dias de hospitalização, não conseguiu reunir o montante para pagamento das despesas médicas, tendo o hospital retido o corpo durante quatro dias.
“Há alguns anos isso [retenção de cadáveres] acontecia com frequência. Agora é mais raro, pois essa prática é proibida e há sanções”, explicou Nadia Cruz, da Defensoria Pública. “Com a covid-19 e os valores elevados que representam as [longas] hospitalizações, algumas clínicas voltaram a fazer isso”, acrescentou.
Uma lei aprovada em fevereiro limita os honorários das clínicas privadas a cerca de 422 euros por dia na UCI.
“Com a nova lei, conseguimos verificar se as tarifas ultrapassam o limite imposto pelo governo. Mas não temos como verificar os medicamentos usados na terapia intensiva”, disse Nadia Cruz, frisando: “Quando temos acesso aos ficheiros completos, recebemos 10 páginas de tratamentos que não temos como avaliar se eram realmente necessários”.
Mais da metade dos leitos de UCI no país são em estabelecimentos privados. Algumas clínicas pedem aos familiares o pagamento de um sinal antes da hospitalização, mesmo em caso de urgência, ou que seja apresentada a escritura de uma casa própria.
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