Já é possível comprar ações de obras de arte como se da bolsa de valores se tratasse. A plataforma Masterworks está a tentar trazer a arte das elites para todos.
No outono de 2018, uma obra de Banksy, “Love is in the Bin“ (“O Amor Está no Lixo” em português), foi vendida por 1,2 milhões de euros.
Agora, o comprador original colocou a obra à venda e espera-se que ela valha mais de 4 milhões de euros — o que equivaleria a um retorno de mais de 250% sobre o investimento original.
E se, em vez de o mercado de arte ser apenas para as elites, as pessoas comuns pudessem comprar ações de uma peça de arte cara e vendê-las como bem entendessem? É precisamente isso que uma nova plataforma, Masterworks, procura fazer.
Os fundos de investimento em arte existem há mais de um século. A Masterworks, no entanto, deu um nova ar a uma velha prática, na medida em que a plataforma permite que indivíduos comprem ações de obras de arte específicas por 20 dólares.
Os investidores podem então vender essas ações num mercado secundário fácil de usar ou esperar até que a Masterworks venda a peça.
Para aqueles que pensam em comprar arte apenas para fins de investimento, é importante entender como é que os fundos de investimento em arte têm funcionado tradicionalmente e se os especialistas acreditam que é um bom investimento.
Um dos primeiros fundos de investimento em arte chamava-se La Peau de l’Ours (A Pele do Urso), que estava sediado em França durante o início do século XX.
O nome vem de uma fábula francesa que contém o aforismo “nunca venda a pele do urso antes de matá-lo” e faz alusão ao facto que investir em arte pode ser um empreendimento arriscado.
Parcialmente pretendido como um meio de apoiar artistas pós-impressionistas emergentes, como Picasso, Matisse e Gauguin, o fundo era administrado como um sindicato no qual um pequeno número de parceiros contribuía com quantias idênticas para comprar uma coleção de pinturas.
O empresário, crítico de arte e colecionador Andre Level administrou o fundo e organizou a venda das pinturas. Depois de as pinturas serem vendidas, ele recebia 20% do preço de venda pelo seu trabalho. Os artistas recebiam 20% dos lucros do fundo além do dinheiro que recebiam da venda original. Os investidores recebiam o restante em proporções iguais.
Este conceito — devolver uma proporção do preço de venda ao artista — é conhecido como droit de suite, ou direito de revenda do artista. Versões disto são agora lei na maior parte do mundo ocidental, exceto nos Estados Unidos.
Este primeiro fundo de arte foi um sucesso. Gerou procura por novas obras de arte e apoiou artistas impressionistas e modernos inovadores, ao mesmo tempo que proporcionou um retorno considerável aos investidores originais.
Há fundos de arte que ainda estão em operação, como o Anthea e o The Fine Art Group, e, é claro, bancos e leiloeiras há muito descrevem o investimento em arte como uma estratégia de diversificação adequada para os ricos.
A teoria económica sugere que, por definição, investir em arte pode fornecer retornos menores do que investir em ações. Isto porque é considerado um investimento de paixão. Assim como investir em joias ou moedas, parte do retorno do investimento em arte deve ser o gozo intrínseco dos próprios objetos. O retorno total consiste no retorno monetário e no gozo da propriedade.
Como as ações não fornecem, para a maioria das pessoas, esse valor de gozo, o retorno monetário do investimento nesses instrumentos financeiros deveria, em tese, ser maior do que o retorno monetário do investimento em arte. Mas é importante analisar os números.
Em 1986, o economista William Baumol estimou os retornos de longo prazo ajustados pela inflação para investir em arte, ao longo de um período de 300 anos, em apenas 0,6%.
Desde então, alguns investigadores estimaram retornos mais elevados. Por exemplo, o trabalho do professor de finanças de Yale, Will Goetzmann, e dos economistas Jiangping Mei e Mike Moses, encontrou retornos ajustados pela inflação de 2% em 250 anos e 4,9% em 125 anos, respetivamente. Os retornos estimados variam com base no período de tempo, amostra e metodologia.
Arte para todos?
A Masterworks, no entanto, é um pouco diferente dos fundos de arte tradicionais discutidos acima. Os investidores estão a comprar ações de uma única obra de arte, em vez de investir num fundo que inclui várias obras.
O preço de entrada é muito mais baixo e, enquanto houver compradores dispostos a compartilhar a obra de arte, os investidores não ficarão presos ao fundo por um determinado período de tempo. Os investidores podem obter retorno apenas vendendo ações que sobem de valor, sem esperar que a própria obra de arte seja vendida.
Mas, como os fundos de arte tradicionais, os investidores em ações de arte vendidas pela Masterworks ganham dinheiro se o preço das suas obras de arte subir, e perdem o seu dinheiro se ele cair.
O formato da Masterworks provavelmente vai atrair uma geração mais jovem de investidores, muitos dos quais podem ter começado a investir pequenas quantias através de aplicações como a Robinhood.
https://zap.aeiou.pt/ja-pode-comprar-acoes-obras-de-arte-431533
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