Acha que as deputadas do BE são
'esganiçadas', elogia Salazar e pensa que os negros trabalham menos
porque gostam de sexo. Chama-se Pedro Arroja e passa no Porto Canal.
A relação dos crentes com Deus está repleta de nuances espirituais. Os
franciscanos acreditam que os laços com o divino se estreitam com a
abnegação material. Os jesuítas entendem que para chegar ao criador é
necessário ajudar os mais frágeis no caminho da fé. Pedro Arroja acha
que Deus existe porque a mãe não sabia fazer pénis.
Comentador
regular no Porto Canal, Arroja saltou para ribalta nas últimas semanas
com visões pouco comuns sobre o papel da mulher, a adopção gay e a
própria existência de Deus. A polémica nasceu há três semanas, quando
chamou “esganiçadas” às deputadas do BE, e aprofundou-se há duas, quando
comentou a adopção homossexual e fez uma longa dissertação teológica
sobre o tema.
Para sustentar
que, com a adopção gay, os humanos estavam a interferir indevidamente no
domínio do sagrado, Arroja socorreu-se do instrumento argumentativo
mais à mão. “Eu sou um homem. Tenho órgãos genitais de homem: pénis,
testículos, etc. Não fui eu que os fiz. A minha mãe já faleceu, mas
posso facilmente imaginar-me a perguntar à minha mãe: ‘Olha, tu sabes
fazer pénis?’. E estou a ouvir a resposta, naquele jeito muito peculiar:
‘Oh filho, eu sei lá fazer uma coisa destas’. Ela fez quatro. Mas não
sabe fazer pénis”. Então quem projectou os órgãos do economista? “Foi
Deus”.
O
falo divino de Arroja mostra assim uma verdade irrefutável: para Deus,
um homem é um homem, uma mulher é uma mulher, e não há confusões. Os
dois complementam-se. “O homem dá à mulher direcção, indica-lhe um
caminho. Uma mulher não é capaz de definir um caminho. Sem um homem,
fica sem saber o que fazer. A mulher dá ao homem equilíbrio, moderação,
porque um homem sozinho só faz asneiras, como beber em excesso e
conduzir o carro a 200 à hora”. As crianças, se pudessem escolher,
optariam sempre por um casal heterossexual para serem adoptadas. É essa a
ordem natural das coisas, o caminho de uma “sociedade viável”.
Os
comentários fizeram crescer a polémica. Se as “esganiçadas” valeram um
protesto do BE e uma queixa à Entidade Reguladora para a Comunicação
Social, os comentários sobre o papel da mulher mereceram queixas de
vários espectadores do Porto Canal. Adjectivos como misógino ou
homofóbico são o mais simpático que dele se diz. Esta semana,
confrontado com as queixas, Arroja defendeu-se: “Ainda os meus filhos
andavam de fraldas e eu já era insultado pelos comentários que fazia”.
Polémico
desde os anos 90 Dizer que Arroja é um economista pouco convencional é
minimizá-lo. Ao seu lado, o provocador João César das Neves parece um
menino de coro. As polémicas recentes trouxeram-no para o foco das redes
sociais, mas as ideias arrojadas já dão que falar há décadas. Nascido
em Lisboa, filho de um contabilista e de uma modista, está prestes a
completar 62 anos. Estudou na Escola Comercial Veiga Beirão e depois
rumou para o Porto, onde se licenciou em economia e conheceu a mulher,
Lina. Fez depois o mestrado e o doutoramento no Canadá, na universidade
de Otava.
Quando regressou a
Portugal, já na década de 80, ainda deu aulas na Universidade do Porto,
mas foi sol de pouca dura. Queixou-se mais tarde de não ser bem recebido
pela “ortodoxia” política da faculdade e saiu para instituições de
ensino privadas, ao mesmo tempo que criou uma sociedade de gestão de
activos. Ganhou essa aposta. As opções certeiras em bolsa deram-lhe
dinheiro e as intervenções públicas incendiárias deram-lhe fama.
“Deslocava-se
num Mercedes desportivo e a sede da empresa era num palacete da Foz,
uma das zonas mais nobres do Porto. Eram sinais de que à época os
negócios lhe estavam a correr bem”, recorda ao i um profissional do
sector financeiro que contactou com Arroja.
Na
altura, fez furor ao calcular que o Porto era prejudicado face a Lisboa
nas verbas que recebia. A falta de ‘protocolo’ nas entrevistas e
debates em que participava tornaram-no uma celebridade. Passou a
escrever e a comentar no “Jornal de Notícias”, na “Vida Económica”, na
TSF.
Uma longa entrevista à
“Grande Reportagem” no início dos anos 90, à jornalista Fernanda Câncio,
explanou o seu pensamento. Em termos ideológicos, Arroja pode
considerar-se um economista liberal, mas com mais condimento do que o
habitual. Se os liberais clássicos defendem a saída do Estado da
economia, Arroja defende a saída do Estado de tudo o que mexa. Na
entrevista, defendeu a privatização da polícia, a privatização dos
tribunais e o fim da legislação que impede o trabalho infantil. “Se a
criança vai ou não trabalhar, é com os pais”.
Acabaria
com o ensino obrigatório e defendeu a mercantilização das eleições, com
a livre compra e venda de votos. “É precisamente a pensar nos pobres
que eu punha a questão da transacção do voto. Se uma pessoa tem direito a
um voto mas não quer usá-lo, tem de o deitar fora. Noutro sistema,
poderá vendê-lo a alguém que queira votar várias vezes. Já viu quantos
pobrezinhos ficavam beneficiados?”
Apesar
de se manifestar adepto da economia americana, encontrava elementos
menos conseguidos nessa sociedade. Na altura, os motins das populações
mais pobres de Los Angeles davam que falar. A explicação para os motins,
segundo Arroja, era simples. “Tem a ver com o problema negro. Que é
basicamente um problema de família. Os negros não são capazes de
constituir família como tendência geral, como nós constituímos. Têm
muitas mulheres. E a pobreza americana, hoje, como nos outros países
desenvolvidos, é sobretudo a mulher sozinha com filhos. E a maior parte
das famílias negras acabam assim”.
O
economista dava o exemplo do continente africano. “Vá a África e veja
porque é que eles não trabalham. Gostam muito de sexo; nós também
gostamos, mas se estivéssemos o dia todo na cama não fazíamos mais
nada”.
O regresso à ribalta
Arroja voltou a ganhar protagonismo na década passada. Na época dourada
dos blogues, apareceu a escrever no Blasfémias e no Portugal
Contemporâneo – neste último ainda hoje aparece como redactor. Novamente
o apetite dos jornalistas se aguçou. Em entrevista à “Visão”,
manifesta-se descontente com a democracia e declara-se adepto de um
sistema mais musculado. “O regime democrático, apesar dos dinheiros que
temos vindo a receber da UE, não conseguiu progresso nenhum. Digo o que
está em evidência: que o nosso país prosperou sempre mais com regimes de
autoridade. O crescimento médio durante o tempo de Salazar foi
extraordinário”. O chefe de governo é visto como alguém que “pôs isto na
ordem” depois dos dislates da primeira República.
Apesar
das recentes dissertações religiosas, a convicção teve oscilações. À
“Grande Reportagem”, chegou a comparar a Igreja Católica a um espécie de
máfia. Na entrevista da “Visão”, já admitia ser “um pouco” religioso.
Academicamente,
Pedro Arroja não tem relevância – os poucos artigos científicos
publicados pelo economista são já antigos. Hoje está no Instituto
Superior de Estudos Financeiros e Fiscais, em Gaia, e mantém a empresa
de gestão de patrimónios. Até há poucas semanas, parecia distanciado das
polémicas. Apostou no seu projecto mais emblemático, que revela a
faceta menos conhecida do economista. É presidente da associação ‘Um
Lugar para o Joãozinho’ e tem-se batido ao longo de anos pela construção
de uma nova nova ala pediátrica no Hospital de São João. Esta
segunda-feira, a ‘guerra’ com o Bloco de Esquerda chegou a este
projecto: “A obra não é feita porque o Estado não tem dinheiro. Mas tem
dinheiro para as reformas dos deputados”. A controvérsia segue dentro de
momentos, num Porto Canal perto de si.
Fonte: http://www.msn.com/pt-pt/financas/negocios/pedro-arroja-o-economista-que-acredita-em-deus-porque-a-m%C3%A3e-n%C3%A3o-sabia-fazer-p%C3%A9nis/ar-AAgc73P?li=AAaYVP2&ocid=SK2MDHP
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