Algumas espécies de baleias vivem durante muitos anos graças a genes supressores de tumores duplicados. Esta descoberta pode ajudar na investigação sobre cancro em humanos.
Um novo estudo sugere que o tamanho gigantesco das baleias não é apenas uma ramificação evolutiva, mas está também associado a um ‘milagre médico’ que ajuda alguns destes animais a viver mais de 100 anos. Os investigadores analisaram genes supressores de tumores em duas famílias de cetáceos: Odontoceti e Mysticeti.
Os autores do estudo, publicado esta terça-feira na revista Proceedings of the Royal Society B, descobriram que uma taxa de renovação mais alta desses genes está associada a uma maior longevidade e menor incidência de cancro, entre outros benefícios.
Um dos coautores é o microbiólogo português João Pedro de Magalhães, que lidera o Integrative Genomics of Aging Group do Instituto de Biologia Interrogativa da Universidade de Liverpool, em Inglaterra.
O paradoxo de Peto pressupõe que, ao nível das espécies, a incidência de cancro não parece estar correlacionada com o número de células num organismo. Por exemplo, a incidência de cancro em humanos é muito maior do que a incidência de cancro em baleias, apesar de as baleias terem mais células do que os humanos.Se a probabilidade de carcinogénese fosse constante entre as células, seria de esperar que as baleias tivessem uma incidência maior de cancro do que os humanos.
Anteriormente, investigadores atribuíam este paradoxo aos bons genes das baleias, que suprimem o cancro e outras doenças. No entanto, realça o Inverse, os autores deste novo estudo observaram que certas espécies de baleias, que vivem mais de 100 anos, teriam sido expostas a vários patógenos perigosos.
Hipoteticamente, isso aumentaria a probabilidade de desenvolverem genes aprimorados para proteger contra essas doenças.
Os cientistas identificaram 71 genes supressores de tumores duplicados nas baleias estudadas. Onze desses genes estão correlacionados com maior longevidade e tinham uma taxa de renovação 2,4 vezes mais rápida do que qualquer outro mamífero.
Além disso, a equipa descobriu que um ancestral da família de cetáceos transportou um importante gene conhecido como CXCR2, que regula a função imunológica, a danificação do ADN e a disseminação de tumores.
“Um dos principais processos que já demonstrou desempenhar um papel importante no envelhecimento e na supressão do cancro é a senescência celular“, que é o processo natural de envelhecimento ao nível celular, escrevem os autores.
A baleia-da-Gronelândia, conhecida por viver durante mais de 200 anos, tinha o maior número de duplicações de genes.
“O aumento no número de cópias de genes do envelhecimento em cetáceos pode fornecer proteção adicional contra o desenvolvimento de vários tipos de cancro, bem como doenças relacionadas com o envelhecimento”, escreve a equipa de investigadores.
Agora que é conhecida a importância destes genes em baleias, o próximo passo é usar estas descobertas para melhorar a investigação sobre cancro e longevidade em humanos.
“Seria interessante investigar o efeito destas variantes conservadas de GST [genes supressores de tumores], identificadas em baleias, em células humanas. Esta via de investigação poderia eventualmente levar a uma compreensão de novos caminhos que servem para melhorar os mecanismos celulares de proteção contra danos ao ADN, cancro e envelhecimento”, admitem os investigadores.
https://zap.aeiou.pt/segredo-investigacao-cancro-baleias-383122
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