Biólogos revelam alguns detalhes sobre espécies “invisíveis”. No mar, estas são mais comuns do que na terra devido às suas caraterísticas.
Enquanto caminhava pela floresta tropical peruana, o biólogo Aaron Pomerantz observou o que pareciam minúsculos jatos invisíveis a voar. “Eu estava com uma rede a tentar apanhar as coisas”, referiu o investigador “e elas mudaram de direção e desapareceram”.
Este foi o seu primeiro encontro com borboletas de asas claras, insetos que habitam as florestas da América Central e do Sul e possuem um notável meio de camuflagem: asas transparentes ou de “vidro” que as tornam particularmente difíceis de avistar na floresta.
“É como o poder da invisibilidade”, disse Pomerantz, principal autor de um estudo publicado recentemente no Journal of Experimental Biology, que examina de que forma as asas transparentes se desenvolvem.
“Se pudermos colocar uma capa invisível, será muito mais difícil para os predadores nos encontrarem. Em ambientes oceânicos existem muitas espécies transparentes, mas em terra é muito menos comum. Isto faz-nos questionar: O que é preciso para ser transparente em terra?’”, afirma.
Ao estudar as asas da borboleta glasswing, em vários estágios do seu desenvolvimento, Pomerantz e a sua equipa encontraram alguns fatores.
Perceberam que existem alterações na forma e densidade das escalas microscópicas que normalmente criam os padrões coloridos de uma borboleta. Uma camada de pequenos pilares cerosos também atua como um revestimento anti-reflexo extra. Porém, esta não é uma adaptação única, visto que já “evoluiu várias vezes”, refere Pomerantz.
Embora representem apenas uma pequena porção da ordem Lepidoptera, constituem a maioria dos raros exemplos dessa transparência em terra. As rãs de vidro, que exibem vários graus de translucidez da pele, são outro exemplo.
O oceano, por outro lado, está repleto de espécies transparentes, de águas-vivas e esponjas a crustáceos, cefalópodes e até peixes.
No início do verão de 2021, dois raros avistamentos de um polvo de vidro foram feitos durante uma expedição, a bordo do navio de pesquisa Falkor do Schmidt Ocean Institute, às profundezas aquáticas das remotas Ilhas Phoenix, no Oceano Pacífico.
De acordo com o Wired, ser invisível é muito mais fácil no oceano do que na terra, em parte por causa das propriedades visuais e físicas da água.
Laura Bagge, bióloga marinha, explica que isto acontece porque “o ambiente marinho é muito mais descaraterizado do que em terra. Por outro lado, também não se tem de lidar com a gravidade. Portanto, a maioria desses animais é algum tipo de coisa aquática e flutuante, sem espinha dorsal ou estruturas densas que são necessárias para sobreviver na terra”, explica.
Bagge contou ao Wired que ficou fascinada com a transparência animal durante um cruzeiro de pesquisa para a sua dissertação na Duke University.
Durante a investigação, a bióloga descobriu que as conchas do cistisoma, têm estruturas microscópicas irregulares semelhantes às das asas das borboletas de vidro. Essas nano estruturas inspiraram aplicações para revestimentos anti-reflexos em painéis solares, vidros e câmaras. Os músculos no cistisoma têm outras adaptações para torná-los transparentes – um tópico que Bagge está a preparar para um futuro artigo de pesquisa.
Ser invisível pode ter muitos benefícios para algumas espécies, sobretudo na hora de tentarem fugir dos predadores do fundo mar.
“Na maioria das vezes, as espécies estão a circular sem problemas”, diz Bagge, “mas se um predador acende uma luz azul sobre eles, imediatamente mudam para uma espécie de manto pigmentado que absorve a luz”, remata.
https://zap.aeiou.pt/biologos-segredos-animais-invisiveis-429610
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