Investigador português da Universidade de Liverpool partiu da teoria dos conjuntos causais para pôr em causa alguns dos conceitos mais importantes na complexa evolução do Universo.
A ideia de que o nosso universo foi criado através de uma explosão massiva que deu forma a tudo o que hoje conhecemos — e como conhecemos — pode, afinal, estar errada e quem o vem afirmar é um português que tem a sua teoria muito bem estudada e fundamentada. No seu trabalho, Bruno Bento, investigador da Universidade de Liverpool, aplicou uma nova teoria quântica da gravidade, a chamada teoria dos conjuntos causais, segundo a qual o tempo e o espaço são considerados de forma separada, ou seja, são divididos em pedaços discretos de tempo-espaço.
Segundo essa teoria, em algum ponto tem de existir uma unidade fundamental de espaço-tempo. Como tal, Bento e os seus colaboradores partiram da teoria de conjunto causal para explorar o início do Universo. Uma das conclusões a que chegaram é que é bem possível que o o Universo não tenha tido um início, ou seja, tenha existido sempre, no passado, e evoluído mais recentemente para o que ficou universalmente conhecido como Big Bang.
“Fiquei emocionado quando encontrei esta teoria, que não tenta apenas ser o mais fundamental possível — apresentando-se como uma abordagem à gravidade quântica que repensa a noção do espaço-tempo — mas que também dá um papel central ao tempo e ao que significa a sua passagem”, explicou ao investigador à revista Live Science.
Para Bruno Bento, a teoria de conjunto causal tem naturalmente implicações importantes para a natureza do tempo, área em que se especializou. “Uma parte significativa da filosofia do conjunto causal diz-nos que a passagem do tempo é algo físico, que não deve ser atribuída a algum tipo emergente de ilusão ou a algo que acontece dentro dos nossos cérebros que nos faz pensar que o tempo passa; essa passagem, em si, é uma manifestação da teoria física.”
“Desta forma, na teoria dos conjuntos causas, um dos conjuntos dará origem a um ‘átomo’ de cada vez e ficará cada vez maior”, acrescentou.
A abordagem do conjunto causal remove nitidamente o problema da singularidade do Big Bang porque, na teoria, as singularidades não podem existir. É impossível que a matéria se comprima em pontos infinitamente minúsculos – eles não podem ficar menores do que o tamanho de um átomo do espaço-tempo.
Portanto, sem uma singularidade do Big Bang, como é o início do nosso Universo? Foi aí que Bento e seu colaborador, Stav Zalel, aluno de pós-graduação do Imperial College London, pegaram o fio, explorando o que a teoria dos conjuntos causais tem a dizer sobre os momentos iniciais do universo.
O trabalho do investigador português e da sua equipa, da qual resultou um paper, foi publicado no final de setembro na base de dados arXib, estando ainda à espera de ser publicado também numa publicação científica que exija a revisão por pares. O documento visa “analisar se o início deve existir à luz da abordagem do conjunto causal”, explicou o investigador.
“Na formulação e dinâmicas originais, falando de forma clássica, um conjunto causal cresce do nada para o Universo que conhecemos hoje. Em vez disso, no nosso trabalho, o Big Bang não seria o início, já que o conjunto causal estaria no passado, por isso existiria sempre antes.” O trabalho em causa quer, então, indicar que o Universo pode não ter tido início — que sempre existiu, simplesmente. O que nós entendemos pelo Big Bang é que este pode ter sido apenas um momento particular na evolução deste “sempre existente” conjunto causal, não um verdadeiro início.
Perante as conclusões apresentadas, é possível dizer que há ainda muito trabalho por ser feito, ainda assim, já que não é ainda claro se esta abordagem de “início não real” causal pode ser compatível com as teorias da física que frequentemente são usadas para explicar a complexa evolução do Universo durante o Big Bang.
“As pessoas podem-se perguntar se esta abordagem de conjuntos de causalidade pode ser interpretada de forma “razoável” ou o que é que esta dinâmicas podem representar para um âmbito mais alargado, mas nós mostramos que isto é efetivamente possível”, explicou Bruno Bento. “Pelo menos matematicamente, isto é possível.”
https://zap.aeiou.pt/afinal-o-inicio-do-universo-pode-nunca-ter-realmente-existido-437779
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