A meio de uma complicada crise de combustíveis no Reino Unido, o Príncipe Carlos revela que o seu velho Aston Martin funciona graças a um biocombustível feito com sobras de vinho e soro de queijo.
O Príncipe Carlos assumiu publicamente, por diversas vezes, as suas preocupações ambientais e agora, em entrevista à BBC na antecipação da Cimeira do Clima COP26, revela como se tem esforçado por reduzir a sua pegada de carbono.
Quando confrontado com o jornalista com o facto de que aquecer um palácio exige o uso de “muito gás”, o Príncipe Carlos relata que vem tentando, “desde há muito tempo, garantir que o aquecimento é feito da forma mais sustentável possível“.
Assim, nota que tem implementado sistemas de aquecimento que funcionam por caldeira de biomassa e painéis solares.
Carlos também sublinha que não come “carne e peixe dois dias por semana” e que não ingere lacticínios “um dia por semana”.
Além disso, refere que adaptou o Aston Martin que detém há cerca de cinco décadas para funcionar com uma mistura de sub-produtos derivados de restos de vinho branco inglês e de soro de queijo.
É uma espécie de combustível real feito com 85% de bioetanol e 15% de gasolina sem chumbo, uma mistura conhecida como E85, conforme revela o jornal britânico The Guardian.
Solução pitoresca, mas pouco séria
Mas esta solução do Príncipe não é escalonável para aplicar de forma abrangente nos transportes, conforme realçam especialistas ouvidos pelo referido jornal.
“A solução pitoresca do Príncipe Charles para descarbonizar o seu Aston Martin, usando uma alta mistura de bioetanol feita de queijo e de resíduos de vinho, não deve ser confundida com uma solução séria para descarbonizar veículos”, alerta Greg Archer, o director do grupo europeu T&E que faz campanha pelo uso de energia limpa nos transportes, em declarações ao The Guardian.
“Em grande escala, os biocombustíveis fazem mais mal do que bem, levando ao desmatamento e à mudança no uso da terra que piora a crise climática”, aponta ainda Greg Archer que acredita que a melhor solução são os carros eléctricos movidos a energia renovável.
O consultor Chris Mallins, especialista em sustentabilidade, também destaca as boas intenções do Príncipe Carlos no incentivo da utilização das energias limpas, mas refere que para transformar vinho e queijo, ou outras sobras alimentares em biocombustíveis realmente sustentáveis, será necessária “uma tecnologia mais avançada”.
The Guardian lembra que o supermercado Morrisons fechou a sua bomba de combustível bioetanol E85 depois de ter sido a primeira do tipo no Reino Unido em 2007.
Em contrapartida, o uso de óleo vegetal hidrotratado (HVO) está em crescimento no mercado de transporte britânico, nomeadamente em veículos pesados de mercadorias, aponta o jornal.
Também há autoridades locais a apostarem na conversão de veículos de recolha de lixo a diesel, entre outras viaturas, para usarem combustível à base de óleo vegetal, frisa ainda a mesma fonte.
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