O Governo chinês pagou a um “exército de trolls” para invadir as redes sociais e com conversas para distraírem as pessoas do novo coronavírus.
Li Wenliang foi um dos médicos que, inicialmente, tentou alertar a comunidade médica para a existência de um novo coronavírus em Wuhan, na China. O profissional de saúde foi recriminado pela polícia, acusado de “espalhar rumores” e, num triste desfecho, acabou por morrer infetado. Pela internet circulavam rumores que o Governo chinês pode ter estado envolvido na morte do cientista.
De acordo com diretivas confidenciais enviadas a funcionários de propaganda e agências de notícias locais, as autoridades avisavam para o “efeito da borboleta” que esta notícia poderia ter e rapidamente trabalharam para suprimi-la e recuperar a narrativa, escreve o site de jornalismo de investigação independente ProPublica.
As autoridades ordenaram aos sites de notícias para não enviarem notificações com a notícia da morte do cientista; disseram às redes sociais para gradualmente remover o seu nome das páginas de assuntos do momento (trending); e criaram legiões online de falsos comentadores para inundar as redes sociais com conversas para distraírem as pessoas da morte do cientista.
“À medida que os comentadores lutam para orientar a opinião pública, eles devem ocultar a sua identidade, evitar patriotismo rude e elogios sarcásticos e ser elegantes para alcançar resultados”, apelava o Governo chinês nas diretivas.
De forma a gerir aquilo que aparecia na internet chinesa no início do ano, as autoridades emitiram ordens rígidas sobre o conteúdo e o tom da cobertura noticiosa, pagando a trolls para inundar as redes sociais com tagarelice partidária, explica o ProPublica.
Os documentos mostram ainda que as restrições da China às informações sobre o surto do novo coronavírus começaram no início de janeiro, ainda antes de ele ter sido identificado definitivamente.
Em várias ocasiões, países como os Estados Unidos acusaram a China de tentar esconder minimizar a importância da covid-19, apesar de alegadamente estarem cientes do seu potencial pandémico e fatal.
Um relatório dos serviços de inteligência norte-americanos divulgado em abril concluiu que a China falseou os dados sobre a severidade da covid-19. Os EUA estimam que o número de mortes e casos de infeção divulgados por Pequim sejam falsos, intencionalmente abaixo face à realidade da pandemia naquele país.
Os documentos consultados pelo ProPublica incluem mais de 3.200 diretivas e 1.800 memorandos e outros arquivos dos escritórios do regulador da internet do país. Também incluem arquivos internos e códigos de computador de uma empresa chinesa, Urun Big Data Services, que cria software usado por governos locais para monitorizar discussões na Internet e gerir ‘exércitos’ de comentadores online.
https://zap.aeiou.pt/china-exercito-trolls-censurar-covid-367638
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