Astrónomos da Universidade da Califórnia, em Los Angeles,
identificaram 366 novos exoplanetas, em grande parte graças a um
algoritmo aí desenvolvido.
Entre as suas descobertas mais notáveis, descritas num artigo científico publicado no The Astronomical Journal, está um sistema planetário
que compreende uma estrela e pelo menos dois planetas gigantes gasosos,
cada um com aproximadamente o tamanho de Saturno e localizados
excecionalmente perto um do outro.
O número de exoplanetas identificados pelos astrónomos totaliza menos
de 5.000, de modo que a identificação de novas centenas é um avanço
significativo. O estudo de um novo grupo tão grande de corpos pode
ajudar os cientistas a melhor entender como os planetas se formam e como
as órbitas evoluem.
“Descobrir centenas de novos exoplanetas é uma conquista significativa por si só,
mas o que diferencia este trabalho é como vai iluminar características
da população exoplanetária como um todo”, disse Erik Petigura, professor
de astronomia na UCLA.
O autor principal do artigo, Jon Zink, e Erik Petigura, assim como
uma equipa internacional de astrónomos chamada projeto “Scaling K2”,
identificaram os exoplanetas usando dados da missão K2 do Telescópio Espacial Kepler da NASA.
A descoberta foi possível graças a um novo algoritmo de deteção de planetas desenvolvido por Zink.
Algoritmo de deteção
Um desafio na identificação de novos planetas é que as reduções no
brilho estelar podem ter origem no instrumento ou de uma fonte
astrofísica alternativa que imita uma assinatura planetária. Descobrir o
que é o quê requer investigações extra, o que tradicionalmente é
extremamente demorado e só pode ser realizado por meio de inspeção
visual.
O algoritmo de Zink é capaz de separar quais os sinais que indicam exoplanetas e quais os que são meramente ruído.
“O catálogo e o algoritmo de deteção de planetas que Jon e a equipa
do Scaling K2 criaram é um grande avanço na compreensão da população de
planetas”, disse Petigura. “Não tenho dúvidas que irão aprimorar a nossa
compreensão dos processos físicos pelos quais os planetas se formam e
evoluem.”
A missão original do Kepler teve um fim inesperado em 2013, quando
uma falha mecânica deixou a espaçonave incapaz de apontar com precisão
para uma região do céu que vinha a observar há anos.
Mas os astrónomos redirecionaram o telescópio para uma nova missão
conhecida como K2, cujo objetivo era identificar exoplanetas em torno de
estrelas distantes.
Os dados do K2
estão a ajudar os cientistas a entender como a localização das estrelas
na galáxia influencia que tipo de planetas são capazes de se formar ao
seu redor. Infelizmente, o software usado pela missão Kepler original,
para identificar possíveis planetas, era incapaz de lidar com as
complexidades da missão K2, incluindo a capacidade de determinar o
tamanho dos planetas e a sua localização em relação à estrela.
O
trabalho anterior de Zink e colaboradores introduziu o primeiro
“pipeline” totalmente automatizado para a missão K2, com software para
identificar planetas prováveis nos dados processados.
Para o novo estudo, os investigadores usaram o novo software
para analisar todo o conjunto de dados da missão K2 – cerca de 500
terabytes de dados que abrangem mais de 800 milhões de imagens de
estrelas – para criar um “catálogo” que em breve será incorporado ao arquivo exoplanetário principal da NASA.
Os investigadores usaram o supercomputador Hoffman2 da UCLA para processar os dados.
Além dos 366 novos planetas identificados pelos investigadores, o catálogo lista 381 outros planetas que já tinham sido identificados anteriormente.
Zink disse que as descobertas podem ser um passo significativo para
ajudar os astrónomos a entender quais os tipos de estrelas que são mais
prováveis de ter planetas em órbita e o que isso indica sobre os blocos
de construção necessários para uma formação planetária bem-sucedida.
“Precisamos de olhar para uma gama ampla de estrelas, não apenas aquelas como o nosso Sol, para entender isso”, explicou.
A descoberta do sistema planetário com dois planetas gigantes também foi significativa porque é raro encontrar gigantes gasosos – como Saturno no nosso próprio Sistema Solar – tão perto da sua estrela hospedeira quanto estavam neste caso.
Os investigadores ainda não conseguem explicá-los, mas Zink disse que
isso torna a descoberta especialmente útil porque pode ajudar os
cientistas a formar uma compreensão mais precisa dos parâmetros de como
os planetas e sistemas planetários se desenvolvem.
“A descoberta de cada novo mundo fornece um vislumbre único da física que desempenha um papel na formação planetária”, concluiu.
https://zap.aeiou.pt/descobertos-300-possiveis-exoplanetas-447259