quinta-feira, 16 de abril de 2020

Um terço dos norte-americanos acredita em teorias da conspiração sobre a Covid-19 !

Um estudo recente revelou que quase 30% dos norte-americanos acreditam que a Covid-19 foi criada por humanos em laboratório. E quase um quarto dos entrevistados defendeu que essa criação foi intencional.
Enquanto os especialistas continuam as pesquisam sobre as origens do coronavírus, neste momento, a comunidade científica acredita que a Covid-19 provavelmente chegou aos humanos através dos morcegos, tendo como intermediário outro animal, ainda desconhecido, apontou o Vox.
Contudo, um estudo recente do Pew Research Center revelou que quase 30% dos norte-americanos acreditam que a doença foi criada por humanos em laboratório. Embora os resultados dessa pesquisa possam parecer surpreendentes, refletem a dificuldade em transmitir informações precisas sobre a pandemia aos que mais necessitam.
Nesta análise, foi perguntado a 8.914 adultos norte-americanos se acreditavam que a atual pandemia de coronavírus “surgiu naturalmente, foi desenvolvida intencionalmente num laboratório, foi feita acidentalmente num laboratório ou não existe”.
Apenas 43% escolheram “surgiu naturalmente”, enquanto 23% ​​disseram que o vírus foi criado intencionalmente. Outros 6% responderam que este foi criado acidentalmente e 1% afirmou que o vírus não existe de fato. A pesquisa, realizada entre 10 a 16 de março, tem uma margem de erro de 1,6 pontos percentuais.
Estas opiniões surgiram apesar de 70% dos entrevistados ter indicado que a comunicação social tem estado a cobrir “muito bem” ou “bem” a crise de coronavírus.
De acordo com o Vox, estas conclusões sugerem que as teorias da conspiração se têm infiltrado nas notícias – ou que os jornalistas não estão a fazer o suficiente para explicar de maneira clara e convincente o que se sabe sobre as origens reais do vírus.
A crença de que a Covid-19 foi criada por humanos decorre de especulações levantadas por alguns cientistas durante os primeiros dias do surto. Na altura, a hipótese foi apontada devido ao facto de nem todos os primeiros casos de infetados frequentar o mesmo mercado de animais em Wuhan, na China. Os cientistas propuseram então que a origem poderia ter sido um laboratório chinês onde os humanos trabalhavam com morcegos.
Ao Washington Post, o microbiologista Richard Ebright especulou que o vírus poderia ter passado para humanos num acidente laboratorial, “uma infeção acidental de um trabalhador do laboratório”, por exemplo. Essa hipótese foi publicada em vários meios de comunicação e rapidamente evocada por algumas autoridades do governo, incluindo membros do executivo do primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
No entanto, não existem evidências científicas que apoiem essa hipótese, que parece ter sido reforçada pela proximidade entre um laboratório do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças e o mercado animal de Wuhan. O consenso científico aponta que o vírus chegou aos humanos por meio de contato natural com animais.
Mas à medida que essa teoria se espalhou, formou uma variante: uma conspiração de que o vírus não só veio de um laboratório, como foi intencionalmente criado.
A jornalista do Vox, Eliza Barclay desconstruiu essa teoria da conspiração em março, observando quão amplamente esta se espalhou entre especialistas de direita e como os meios de comunicação chineses estavam a trabalhar para desmascará-la. A popularidade desta teoria entre a direita fazia parte da onda contínua de xenofobia dirigida à China logo após o surto. Outra versão da teoria, expressa por pelo menos um funcionário chinês, indicava que o vírus vinha de um laboratório nos Estados Unidos (EUA).
Independentemente do país no qual essas teorias da conspiração sejam favoráveis, continuou o Vox, as suas variantes apareceram ao lado de fatos reais sobre o vírus, divulgados ​​por meios de comunicação e figuras de autoridade.
Para o Vox, um fator mais complicado na disseminação de falsas crenças nos EUA é o papel que o próprio governo de Donald Trump desempenhou, subestimando, minando e repreendendo os esforços para levar a sério a pandemia, com o Presidente norte-americano a disseminar repetidamente afirmações falsas ou infundadas sobre o vírus.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Considerando as alegações de Trump, não surpreende que a media de direita que apoia o Presidente também tenha subestimado a seriedade do vírus. Isso, no entanto, teve consequências. Uma pesquisa de março mostrou que a maioria dos telespectadores da Fox News acha que o medo do coronavírus é exagerado.
Esse tipo de desinformação, porém, pode ter resultados fatais. As pessoas com maior probabilidade de acreditar nas teorias da conspiração sobre a Covid-19 são as mais propensas a morrer do vírus.
Segundo o Pew Research Center, os entrevistados que tinham o ensino básico ou menos, assim como os que se identificaram como negros e latinos, eram mais propensos a acreditar que os humanos criaram a Covid-19. Dada a história sistematicamente desigual dos cuidados de saúde nos EUA, não é de admirar que as minorias possam desconfiar do que os cientistas e as autoridades de saúde lhes dizem sobre o vírus, frisou o Vox.
Mas essa desigualdade, combinada com a preparação e proteção inadequadas do governo, significa que são essas as populações com maior probabilidade de morrer por exposição ao vírus. Em 11 de abril, por exemplo, 41% das mortes relacionadas à Covid-19 em Michigan eram negros, apesar de estes representarem apenas 14% da população daquele estado.
É mais provável que as pessoas mais necessitadas, a classe trabalhadora e as minorias tenham um acesso desigual aos cuidados e seguro de saúde, estejam localizados em zonas de perigo onde há maior poluição do ar e trabalhem em empregos que os colocam em maior risco de exposição.
O estudo demonstrou que, apesar da maioria das pessoas confiar nos media para fornecer fatos precisos, as mais vulneráveis ​​à Covid-19 ainda não obtêm todas as informações necessárias. O ceticismo em relação ao coronavírus já causou estragos nos esforços de alguns estados para combater a pandemia, visto que para limitar a propagação do vírus são precisas ações do governo mas também individuais, sublinhou o Vox.

https://zap.aeiou.pt/um-terco-americanos-teorias-conspiracao-covid-19-318906

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