Uma carta de um sobrevivente do Holocausto que detalha a vida num campo de concentração nazi foi finalmente entregue ao seu destinatário, 75 anos depois de ter sido escrita.
De acordo com a revista Newsweek, com a data de 7 de maio de 1945, a carta foi escrita por Jules Schelvis para a família e trata-se da primeira evidência de um sobrevivente holandês do campo de concentração de Sobibor, na Polónia.
“Gretha, David, Hella, Chel e Herman foram gaseados, tenho 99% de certeza, imediatamente após a chegada ao SS Sonderlager Sobibor, perto de Lublin. Vai ser doloroso ler tudo isto, mas tenho de dizer-lhe mesmo assim”, lê-se na carta, traduzida pela revista norte-americana.
“Escrevo tudo isto com muita frieza porque as muitas coisas que vi e experienciei nos últimos tempos tornaram-me mais duro”, lê-se ainda.
Segundo a mesma publicação, Schelvis foi um dos 18 detidos holandeses que viveu neste campo de concentração depois de ter sido destruído pelos alemães em 1943.
O holandês escreveu esta missiva quando estava no hospital Vaihingen, perto de Estugarda, nos últimos dias da II Guerra Mundial, e entregou-a a outro sobrevivente da mesma nacionalidade que iria regressar ao país.
Schelvis escreveu três endereços no envelope, na esperança de que alguém ainda estivesse vivo para receber a carta, porém esta nunca chegou, conta a Newsweek, que acrescenta que esta foi agora descoberta pelo investigador Jos Sinnema.
“Eu caí da cadeira. Parecia uma cápsula do tempo, algo que você abre depois de estar fechado durante muito tempo. Era algo que a família deveria receber. É muito especial mas, ao mesmo tempo, é oneroso, porque fui a primeira pessoa a ler uma coisa que não foi escrita para mim”, explicou o investigador à rede televisiva Nederlandse Omroep Stichting.
75 anos depois de ter sido escrita, Sinnema conseguiu finalmente entregar a carta, no último domingo, a Karel Stroz, um primo de Schelvis, com 90 anos, que ainda vive em Amsterdão.
O familiar disse que é provável que o holandês que tinha a tarefa de lhe entregar esta missiva, Nico Staal, não tenha conseguido encontrá-lo nas semanas caóticas do pós-guerra, pois não era possível enviar cartas pelo correio.
Segundo a mesma revista, cerca de 180 mil prisioneiros predominantemente judeus, 33 mil deles provenientes da Holanda, foram assassinados naquele campo de concentração. “Sobibor foi uma fábrica de assassinatos. Quase todos foram gaseados imediatamente após a sua chegada”, declarou Sinnema ao jornal Het Parool.
Schelvis, que morreu em 2016 aos 95 anos de idade, dedicou a sua vida para garantir que os horrores deste campo de concentração nazi não seriam esquecidos.
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