segunda-feira, 17 de maio de 2021

Micróbios podem já estar a comunicar com espécies alienígenas !

Os micróbios podem já estar a comunicar com espécies alienígenas, algo semelhante ao que tentamos fazer através do projeto SETI desde 1959.


Estaremos sozinhos no Universo? O famoso programa SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) tem tentado responder a esta pergunta desde 1959.

O astrónomo norte-americano Carl Sagan, e muitos outros, acreditavam que outras civilizações semelhantes à humana deviam existir e que poderíamos comunicar com elas. Mas os céticos não estão convencidos, argumentando que a falta de evidências para tais civilizações sugere que são extremamente raras.

Mas se é improvável que existam outras civilizações semelhantes à humana, poderiam existir outras formas de vida — talvez mais adequadas do que nós para se espalhar no cosmos? E seria possível para essas formas de vida comunicarem entre si?

Um novo estudo, publicado na revista Biosystems, sugere que sim. Micróbios, como bactérias, podem ser os governantes da vida cósmica — e são muito mais inteligentes do que acreditamos. Na verdade, os investigadores mostram como os micróbios podem imitar o programa SETI sem interferência humana.

Para compreender os micróbios, é preciso desafiar os nossos preconceitos antropocêntricos. Embora muitos de nós vejam os micróbios como organismos unicelulares que causam doenças, a realidade é diferente.

Micróbios são entidades multicelulares livremente organizadas. As bactérias, por exemplo, vivem como sociedades com membros de vários mil milhões — colónias capazes de “pensar” e tomar decisões.

Uma colónia bacteriana típica é uma entidade cibernética — um “superencéfalo” que resolve problemas ambientais. Mais importante ainda, todas as colónias de bactérias na Terra estão interligadas num super-sistema bacteriano global denominado bacteriosfera.

Esta world wide web de informações genéticas tem regulado o fluxo de elementos orgânicos na Terra nos últimos três mil milhões de anos, de uma maneira que permanecerá para sempre além das capacidades humanas. São, por exemplo, capazes de reciclar nutrientes importantes, como carbono, azoto e enxofre.

Ainda hoje, as bactérias são os seres vivos mais dominantes na Terra. Um estudo recente descobriu que as bactérias terrestres podem sobreviver no Espaço por pelo menos três anos, possivelmente mais. As bactérias podem existir num estado dormente durante milhões de anos e é claro que os micróbios são muito resistentes.

Na verdade, várias versões da hipótese da panspermia — que afirma que a vida microbiana existe e viaja por todo o Universo — apoiam esta noção. Modelos matemáticos recentes têm apoiado isso, mostrando que a viagem microbiana pode ser possível não apenas no nosso Sistema Solar, mas por toda a galáxia.

SETI microbiano

Como poderia funcionar o SETI microbiano? Os cientistas acreditam que a bacteriosfera poderia potencialmente replicar todas as etapas conhecidas do SETI humano.

O primeiro passo no SETI humano é a capacidade de ler informações em escala cósmica. O segundo passo é desenvolver tecnologias e conhecimento para avaliar se os planetas habitáveis albergam vida. O terceiro passo é anunciar a nossa presença na Terra para extraterrestres inteligentes e tentar contactar com eles caso respondam aos sinais iniciais.

O segundo passo foi crucial para o desenvolvimento da vida na Terra. As cianobactérias desenvolveram uma biotecnologia na forma de fotossíntese. Isto transformou o planeta morto num planeta vivo, ou a bacteriosfera, ao longo de um longo período evolutivo.

A vida microbiana tornou-se então mais complexa, criando plantas e animais nos últimos 600 milhões de anos. No entanto, as bactérias continuam a ser a forma de vida mais dominante do planeta. A fotossíntese, como uma forma de tecnologia bacteriana, sempre alimentou a vida na Terra.

O terceiro passo é sobre atração e comunicação entre micróbios com substâncias químicas semelhantes. Os micróbios extraterrestres devem ser capazes de se integrar perfeitamente na bacteriosfera da Terra, se compartilharem a química e o metabolismo baseados em carbono, incluindo ADN, proteínas e outras biomoléculas.

O processo oposto também é possível. Micróbios da Terra podem viajar para o espaço em asteroides e semear vida noutras partes do cosmos. Alternativamente, os humanos, como futuros viajantes cósmicos, poderiam atuar como vetores microbianos em virtude do microbioma humano.

Para apreciar o SETI microbiano, precisamos de entender o conceito de inteligência no sentido evolutivo. Isto permitirá avaliar melhor a inteligência bacteriana e as suas capacidades no contexto do SETI humano e microbiano. Alguns biólogos argumentam que a inteligência humana é apenas um fragmento num amplo espectro de inteligência natural que inclui micróbios e plantas.

Também precisamos de reavaliar as assinaturas tecnológicas como sinais de civilizações inteligentes. Civilizações tecnologicamente avançadas, de acordo com o físico Freeman Dyson, devem ter grandes demandas de energia.

Essas demandas podem ser alcançadas pela construção de megaestruturas cósmicas, chamadas de esferas de Dyson, em torno dos seus planetas que podem capturar a energia da sua estrela hospedeira. Procurar essas esferas, verificando se a luz das estrelas está bloqueada, pode ser uma maneira de as encontrar.

Mas, se civilizações semelhantes à humana são realmente raras, não há sentido em procurar por tais estruturas. Em vez disso, pode ser mais apropriado procurar bioassinaturas como sinais de vida microbiana em planetas habitáveis.

O caminho a seguir na procura por vida extraterrestre pode ser a busca por gases na atmosfera de planetas que significam vida, como oxigénio, metano ou fosfina, que são todos produzidos por micróbios.

A descoberta de fosfina na atmosfera de Vénus foi uma pista promissora, mas agora parece duvidosa, pois um novo estudo sugere que o sinal pode ter sido dióxido de enxofre em vez de fosfina.

No entanto, não temos escolha a não ser continuar a tentar. Felizmente, o Telescópio Espacial James Webb deve ser capaz de rastrear a atmosfera de planetas a orbitarem estrelas diferentes do nosso Sol quando for lançado no final deste ano.

https://zap.aeiou.pt/microbios-comunicar-especies-alienigenas-401979

 

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