SÃO FRANCISCO (EUA) — Não é ficção. A infusão de sangue jovem pode
reverter sinais do envelhecimento, sugerem três novos estudos de
universidades americanas. A técnica foi capaz de melhorar o
funcionamento do cérebro, do coração e a força muscular em camundongos
com idade avançada.
Os pesquisadores acreditam que proteínas contidas no sangue jovem são as
responsáveis por reverter os sinais de envelhecimento. Apesar das
diferenças entre camundongos e humanos, especialistas disseram que a
descoberta pode levar a novos tratamentos para doenças mentais e
cardíacas em pessoas. Um ensaio clínico está previsto para começar entre
três e cinco anos.
— A evidência é forte o suficiente agora, em vários tecidos, o que nos
garante para testes e aplicações em humanos — disse Saul Villeda, autor
de um do estudo da Universidade da Califórnia, em São Francisco, ao
“Guardian”.
O envelhecimento é um dos maiores fatores de risco para uma série de
enfermidades mentais e do coração, além de câncer e diabetes, por
exemplo. Os estudos foram comemorados uma vez que, com o envelhecimento
da população, a proporção de pessoas com essas condições cresce e o
custo para a saúde pública representa um dos maiores desafios para
países em todo o mundo.
Na pesquisa liderada pela Universidade de São Francisco, os cientistas
fizeram infusões de sangue de camundongos de três meses de vida em
outros animais com 18 meses — considerada uma idade avançada em
camundongos, e o que pode equivaler a 70 anos em humanos. A terapia
melhorou o desempenho dos camundongos mais velhos em tarefas de memória e
de aprendizagem. Eles apresentaram também mudanças estruturais,
moleculares e funcionais em seus cérebros.
“Nossos dados indicam que o sangue jovem em camundongos no final da vida
foi capaz de rejuvenescer a plasticidade sináptica e melhoria da função
cognitiva” relatou a equipe de pesquisadores em artigo publicado na
revista “Nature Medicine”. “Estudos futuros em humanos idosos são
necessários e, potencialmente, aqueles que sofrem de doenças
neurodegenerativas relacionadas com a idade”.
Os cientistas observaram que o cérebro dos camundongos idosos foi capaz
de formar novas conexões no hipocampo, uma região vital para a memória e
sensível ao envelhecimento.
A equipe de pesquisa injetarou plasma sanguíneo — componente líquido do
sangue, sem as células — de camundongos jovens em animais mais velhos.
As injeções fizeram com que os idosos tivessem o mesmo desempenho em um
teste de memória do que animais com seis meses de idade.
— Há algo sobre o sangue jovem que pode, literalmente, reverter os
prejuízos que você vê no cérebro mais velho — afirmou Villeda, que
ressaltou que o caminho para o teste em humanos ainda é longo. — Eu
gostaria que o nosso estudo viesse como uma legenda grande de “não tente
isso em casa”. Precisamos de um ensaio clínico para ver se isso se
aplica aos seres humanos, e para ver se há efeitos que não queremos.
Villeda acredita que o efeito antienvelhecimento estaria ligado a uma
proteína chamada CREB — que se liga a uma sequência particular de DNA e
age como um reguladora do cérebro. O plasma sanguíneo jovem fez com que a
proteína se tornasse mais ativa, se transformando em genes que
impulsionam as conexões neurais.
Em dois outros estudos, pesquisadores da Universidade de Harvard, em
Cambrigde, mostraram que infusões de sangue jovem rejuvenesceram o
cérebro e os músculos de ratos mais velhos.
Um um dos estudos, os cientistas injetaram a proteína GDF11, presente em
abundância no sangue jovem, e observaram o crescimento de vasos
sanguíneos no cérebro envelhecido, o que melhorou a circulação no órgão.
Os cientistas também relataram o aumento do número de células-tronco
neurais. Até mesmo o olfato dos animais mais velhos melhorou, e eles
foram capazes de distinguir cheiros assim como os mais jovens.
“É possível que o aumento do fluxo sanguíneo possa resultar em aumento
da atividade e função neural, e possibilite a abertura de novas
estratégias terapêuticas para o tratamento de doenças neurodegenerativas
relacionadas com a idade”, escreveram os autores na revista “Science“.
No outro estudo de Harvard, os cientistas utilizaram o método de
parabiose, onde dois animais são unidos cirurgicamente e o sangue de um
circula no outro. Os camundongos mais velhos apresentaram aumento da
força muscular e melhor desempenho em exercícios de resistência.
Por outro lado, os animais jovens sentiram o efeito contrário, de envelhecimento precoce.
Em outro artigo publicado na “Science“, os pesquisadores afirmaram que a
proteína GDF11 também estaria ligada aos benefícios nos músculos. Amy
Wagers, pesquisadora que participou dos dois estudos, afirmou que os
mesmos efeitos poderiam ser conseguidos em humanos:
— A proteína é idêntica em camundongos e humanos e também está presente
na corrente sanguínea em humanos. Nossas análises preliminares sugerem
que nos dois casos ela é regulada pela idade, por isso acho que os seus
efeitos são susceptíveis de traduzir para os seres humanos.
Fonte: http://fatossurpreendentes.blogspot.com/
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