Tubos de lava são abertos nas encostas de vulcões quando a rocha
derretida busca seu caminho em direção à superfície, durante uma
erupção. Quando o fluxo cessa e se resfria, o que resta são túneis
vazios e endurecidos. Em Marte, eles podem ser a futura casa de colônias
de humanos – e parece que uma série de túneis em particular reúne as
melhores condições para isso.
Um tubo de lava na encosta do Pavonis Mons, na região de Tharsis, em Marte.
Desde que a sonda da NASA
Odyssey Mars começou a fotografar em 2001 a superfície marciana, os
cientistas estudam qual seria o melhor local para instalar uma base
permanente no planeta. Uma equipe de pesquisadores do Center for Planetary Science analisou cerca de 1.500 imagens capturadas pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) à procura desses locais.
Liderado pelo astrofísico e cientista planetário Antonio Paris, o
grupo contou ainda com o antropólogo e médico de emergência Evan Davies,
o geólogo Laurence Tognetti e a cientista ambiental Carly Zahniser.
Proteção dentro da cratera
O Hadriacus Mons, vulcão onde se encontram os tubos de lava mais promissores à ocupação humana.
A expertise dos quatro ajudou a localizar pontos que reúnem as
condições ideais para abrigar astronautas: uma série de tubos de lava
nas encostas do Hadriacus Mons, um vulcão na Hellas Planitia – uma
imensa cratera de 2.300 quilômetros de diâmetro perto do equador
planetário, no hemisfério sul. Sua profundidade de sete quilômetros faz
com que somente 50% da radiação atinjam o fundo da bacia.
O grupo procurou então, na Terra, tubos de lava que fornecessem dados
sobre sua eficácia contra a radiação vinda do espaço (mesmo com nossa
magnetosfera, algumas dessas partículas chegam à superfície terrestre).
Tubos de lava na Terra (na foto, acima) e em Marte (embaixo).
Os pesquisadores descobriram um efeito significativo de proteção
contra radiação e, extrapolando seus resultados para Marte, calcularam
que, vivendo em um tubo de lava em Hellas Planitia, os futuros
exploradores poderiam experimentar cerca de 61,64 µSv /dia.
A dose máxima segura de radiação, segundo a Comissão Reguladora
Nuclear dos EUA, é de 6.200 µSv/ano; em Marte, ela pode chegar a 547 µSv
/dia; no fundo de Hellas, ela é de 342 µSv/dia; – ainda assim, muito
alta. Até porque espera-se que, depois de uma viagem de seis meses, os
exploradores vivam anos no planeta.
Abrigo e local de busca por vida
Segundo o estudo do grupo de cientistas, publicado no repositório de
artigos científicos arXiv, escorar os túneis, selar suas entradas e
então pressurizá-los e aquecê-los para torná-los habitáveis é mais
vantajoso que permanecer no veículo pousado ou mesmo construir um abrigo
do zero.
Tubos de lava no flanco sul de Pavonis Mons.
Além disso, o subterrâneo protegerá a missão contra micrometeoritos,
flutuações de temperatura e substâncias perigosas, suspensas na poeira
da superfície marciana.
Segundo o grupo diz em seu trabalho, “os tubos de lava podem servir
também como locais importantes para observação direta e estudo da
geologia e da geomorfologia marciana, além de potencialmente fornecer
evidências sobre o possível desenvolvimento da vida microbiana no início
da história natural de Marte."
https://issoeciencia6.blogspot.com/
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