A professora catedrática Maria do Carmo Fonseca acredita que
em poucos anos será possível reverter o processo de envelhecimento de
células em seres humanos e, em breve, se poderá “viver mais e com melhor
qualidade”.
A longevidade é o tema central de um ciclo de conferências promovido
pela Culturgest, em Lisboa, no qual a presidente do Instituto de
Medicina Molecular (IMM) vai participar. A especialista explicou que a
amortalidade, conceito que descreve a possibilidade de se viver mais
anos sem envelhecer, é uma realidade mais próxima do que se julga.
“O processo de envelhecimento não é irreversível e o
conceito de amortalidade refere-se à possibilidade que a ciência nos
oferece de que o envelhecimento das células possa ser revertido à medida
que acontece”, explicou Maria do Carmo Fonseca, citada pela agência Lusa, adiantando que isso já acontece e o desafio está já na fase seguinte.
“O que pretendemos é transformar esta reversão, feita em laboratório,
segura em pessoas, pois os resultados já conseguidos em animais são
muito promissores”, revelou a professora catedrática na Faculdade de
Medicina da Universidade de Lisboa, simplificando o que está em causa:
“As pessoas vivem mais tempo sentindo-se jovens. Isto é, vivem mais anos
com qualidade, livres de doença, fisicamente ativas e saudáveis”.
Distinguida com o prémio Pessoa em 2010, a especialista clarificou
que este processo pode e vai atrasar o aparecimento das doenças que são
responsáveis pela maior fatia da mortalidade populacional, nomeadamente doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e patologias oncológicas.
“É difícil prever quando vamos ter intervenções medicamente seguras,
mas todos os anos estão a surgir mais estudos que acompanhamos e que nos
dão um horizonte temporal não muito alargado”, afirmou, sem se
comprometer com datas.
Sobre as teorias de imortalidade, a presidente do IMM disse que não
passam de “fábulas” e que o que está a ser desenvolvido se situa no
campo da medicina preventiva e terá efeitos profundos na organização que hoje se conhece.
“Um alargamento da esperança média de vida com qualidade vai,
forçosamente, ter efeitos no Serviço Nacional de Saúde, com diminuição
de listas de espera e menor prestação de cuidados”, ilustrou,
desdramatizando os efeitos sociais que muitos vaticinam.
“Muita gente se refere a este tema como um problema para a
sustentabilidade do sistema de segurança social, mas a verdade é que se
vivermos mais e melhor também seremos mais produtivos durante mais tempo, contribuindo mais e gastando menos recursos do que atualmente acontece”, contrapôs.
Questionada sobre do que se virá a morrer, a especialista lembrou que
a ciência nada pode fazer quanto aos acidentes de que as pessoas são
vítimas e que, inevitavelmente, o envelhecimento, embora tardio, se fará
sentir. Por isso, alertou, continuarão a ser preponderantes os
comportamentos que se tem ao longo da vida.
“A morte natural acontecerá com a falência de órgãos, que mesmo com
este processo de atraso vai sempre acontecer. Isso está intimamente
ligado ao estilo de vida e à exposição a certos estímulos ambientais,
que aumentarão muito a probabilidade de vir a ter um cancro e morrer
dessa doença. Há muitos fatores em jogo para que a pessoa ao longo de
uma vida mais longa encontre uma destas causas de morte”, concluiu.
Numa parceria científica com o Instituto Superior Técnico e a Nova
Medical School, a Culturgest promove nos próximos dias 20 de maio, 03 e
23 de junho uma reflexão e debate sobre o tema “Longevidade: Precisão,
Implicações Sociais, Regeneração”, avaliando o impacto da inteligência artificial
e das tecnologias baseadas no conhecimento genético na gestão da
doença, e a avaliação de como podem contribuir para um envelhecimento
tardio com melhor qualidade de vida.
https://zap.aeiou.pt/especialista-perto-atrasar-envelhecimento-323936
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