Um novo estudo descobriu que a polpa de bagas do café pode
ser usada para promover a recuperação da floresta tropical em terras
pós-agrícolas.
A polpa das bagas do café, descartada após a
extração do grão, pode ajudar a acelerar a recuperação de florestas
tropicais em antigos terrenos agrícolas, concluiu um estudo publicado
esta segunda-feira na revista da Sociedade Ecológica Britânica.
Investigadores da ETH-Zurique e da Universidade do Havai constataram
que, dois anos após ter sido espalhada uma camada de meio metro de
altura do resíduo das bagas de café num solo degradado da Costa Rica, a
área tratada com a polpa transformou-se em floresta, enquanto um terreno
de controlo adjacente continuou revestido por gramíneas de pastagem não
nativas.
Dois anos depois da intervenção, a zona tratada com a polpa das bagas de café, numa área de 35 por 40 metros, tinha 80% de cobertura florestal, em comparação com 20% na parcela de controlo, onde não foram aplicados os resíduos.
Além disso, conforma destaca o Interesting Engineering, no terreno tratado, a cobertura florestal atingiu uma altura quatro vezes superior à área que serviu de comparação.
Num comunicado sobre o estudo, os investigadores relatam que ao ter
sido acrescentada ao solo, em 2018, uma camada de meio metro de
espessura de polpa de bagas de café, foram eliminadas as gramíneas invasoras de pastagem que dominavam a terra e que constituem frequentemente uma barreira à regeneração florestal.
A sua remoção permitiu que espécies arbóreas nativas e pioneiras, que
chegaram como sementes através do vento e da dispersão por animais,
recolonizassem rapidamente a área, de acordo com os resultados do
estudo.
Os responsáveis pela experiência registaram também que, após os dois anos de observação, a concentração de nutrientes como carbono, azoto e fósforo aumentou significativamente na área tratada, em comparação com o terreno de controlo.
A descoberta é considerada promissora pelos investigadores, uma vez
que é habitual as antigas terras agrícolas tropicais ficarem muito
degradadas, com a má qualidade do solo a atrasar a regeneração florestal
durante décadas.
Segundo a principal autora do estudo, Rebecca Cole,
os resultados sugerem que subprodutos agrícolas podem ser utilizados
para acelerar a recuperação florestal em terras tropicais degradadas.
A investigadora acrescenta que, sendo a polpa das bagas de café um
resíduo amplamente disponível e rico em nutrientes, pode ser uma
estratégia de regeneração florestal rentável e importante para atingir
metas ambientais.
“Em situações em que o processamento destes subprodutos implica um
custo para as indústrias agrícolas, a sua utilização para regeneração,
de forma a cumprir objetivos globais de reflorestação, pode representar um cenário vencedor“, sublinha Rebecca Cole, citada no comunicado divulgado pela British Ecological Society.
A autora adverte, no entanto, tratar-se de um estudo com dados de um
período de apenas dois anos, apenas num local, e por isso ser importante
fazer mais testes, “para ver se esta estratégia funciona num leque mais
amplo de condições”.
“Uma monitorização a mais longo prazo mostraria como a polpa de café
afetou o solo e a vegetação ao longo do tempo. Testes adicionais podem
também avaliar se existem quaisquer efeitos indesejáveis da aplicação da
polpa”, acrescenta Rebecca Cole.
A investigadora manifestou ainda o desejo de ver o conceito
experimentado com outros desperdícios agrícolas, como a casca de
laranja.
“Esperamos que o nosso estudo seja um ponto de partida
para outros investigadores e indústrias verem como poderão tornar a sua
produção mais eficiente, criando ligações ao movimento global de
regeneração”, concluiu.
https://zap.aeiou.pt/a-regeneracao-florestas-cafe-391498