A morte é um destino que nos espera a todos, mas até nesse momento se notam as desigualdades entre as várias regiões do mundo. Afinal, onde é o melhor país para se morrer com dignidade? Um novo estudo publicado no Journal of Pain and Symptom Management tentou encontrar a resposta.
A investigação analisou os cuidados de saúde em 81 países e deu-lhes notas de A a F. “A sociedade também deve ser julgada pela forma como as pessoas morrem”, revela Eric Finkelstein, especialista em cuidados paliativos e autor principal do estudo.
“Muitos indivíduos em países desenvolvidos e em desenvolvimento morrem muito mal — não no seu local de escolha, sem dignidade ou compaixão, com uma compreensão limitada da sua doença, depois de gastarem muitas das suas poupanças e com arrependimentos sobre os tratamentos. Estas coisas são muito comuns”, acrescenta.
O estudo foi financiado pela Lien Foundation, uma organização sem fins lucrativos focada na melhoria da qualidade de vida. A equipa fez inquéritos a mais de 1200 cuidadores de vários países para perceber quais as principais prioridades dos pacientes que estão a morrer, explica o Global Health Institute.
Pediram depois a 181 especialistas em cuidados paliativos de todos os cantos do mundo para avaliarem os cuidados de saúde dos seus países de origem tendo em conta 13 factores apontados frequentemente, como a gestão da dor e do comforto, a higiene e segurança dos espaços, a gentileza dos profissionais e receber tratamentos focados na qualidade de vida e não só preocupados em prolongá-la.
A análise concluiu que o melhor país do mundo para se morrer é o Reino Unido. A Irlanda, Taiwan, Austrália, Coreia do Sul e Costa Rica seguiram-se na lista, conseguindo todos uma nota A. A Macedónia do Norte, Panamá, Hong Kong, e a Lituânia fecharam o top 10.
Portugal ficou bem mais para o fundo da lista, ficando entre os dez piores países dos 81 que foram analisados, em 75º lugar, com uma nota F. O pior país da lista foi o Paraguai, seguindo-se o Líbano, Brasil, Senegal, Haiti, Bolívia, Portugal, Benim, África do Sul e Lesoto.
“Talvez a principal conclusão a retirar deste exercício importante é de que a maioria das pessoas do mundo morre mal, muitas sem qualquer tratamento e outras com um excesso de tratamentos fúteis que aumentam o sofrimento”, revela Richard Smith, antigo editor do British Medical Journl e membro da Comissão do Valor da Morte da revista científica Lancet.
Também “não é uma coincidência” ver, geralmente, países mais ricos no topo da tabela e outros mais pobres nos últimos lugares. “A necessidade de cuidados paliativos nos países de rendimentos baixos e médios é esmagadora, onde menos de um terço dos serviços existe”, afirma Stephen Connor, director do Worldwide Hospice Palliative Care Alliance e co-autor do estudo.
Finkelstein lembra que o isolamento trazido pela pandemia, que condenou muitos pacientes a ter de morrer sozinhos e apenas com o conforto dos profissionais de saúde, deve reforçar o foco na importância dos cuidados paliativos.
“Geralmente, as pessoas não falam sobre a morte. A covid tornou o tema menos tabu. Temos uma oportunidade de continuar esta discussão não só para ajudar os pacientes covid, mas para ajudar toda a gente a ter uma melhor experiência de fim de vida”, sublinha.
https://zap.aeiou.pt/melhor-pais-morrer-portugal-na-lista-458329
Sem comentários:
Enviar um comentário