Utilizando o radiotelescópio MWA (Murchison Widefield Array),
 investigadores deram um novo e significativo passo em direção à deteção
 de um sinal do período da história cósmica em que as primeiras estrelas
 iluminaram o Universo.
Há cerca de 12 mil milhões de anos, o Universo emergiu de uma grande 
idade das trevas cósmica quando as primeiras estrelas e galáxias se 
iluminaram. Com uma nova análise de dados recolhidos pelo 
radiotelescópio MWA, os cientistas estão agora mais perto do que nunca 
de detetar a assinatura ultrafraca desse momento decisivo na história cósmica.
Num artigo disponibilizado no site de pré-impressão ArXiv e a ser publicado brevemente na The Astrophysical Journal,
 os cientistas apresentam a primeira análise de dados de uma nova 
configuração do MWA desenhada especificamente para procurar o sinal do 
hidrogénio neutro, o gás que dominou o Universo durante a idade das 
trevas cósmica.
A análise estabelece um novo limite – o limite mais baixo até agora – para a força do sinal do hidrogénio neutro.
“Podemos dizer com confiança que se o sinal do hidrogénio neutro 
fosse mais forte do que o limite que estabelecemos no artigo, então o 
telescópio o teria detetado”, disse Jonathan Pober, professor assistente
 de física da Universidade Brown e autor correspondente do novo artigo 
científico. “Estas descobertas podem ajudar-nos a restringir ainda mais o momento em que a idade das trevas cósmica terminou e as primeiras estrelas surgiram.”
A investigação foi liderada por Wenyang Li, que realizou o trabalho 
como aluno de doutoramento na Universidade Brown. Li e Pober colaboraram
 com um grupo internacional de investigadores que trabalhavam com o MWA.
Apesar da sua importância na história cósmica, pouco se sabe sobre o 
período em que as primeiras estrelas se formaram, conhecido como Época da Reionização.
Os primeiros átomos que se formaram após o Big Bang foram iões de 
hidrogénio com carga positiva – átomos cujos eletrões foram arrancados 
pela energia do Universo jovem. À medida que o Universo arrefecia e se 
expandia, os átomos de hidrogénio reuniram-se com os seus eletrões para 
formar hidrogénio neutro.
Isso era tudo o que havia no Universo até há cerca de 12 mil milhões 
de anos, quando os átomos começaram a agrupar-se para formar estrelas e 
galáxias. A luz desses objetos reionizou o hidrogénio neutro, fazendo 
com que desaparecesse amplamente do espaço interestelar.
O objetivo de projetos como o que está a decorrer no MWA é localizar o sinal do hidrogénio neutro da idade das trevas e medir como mudou à medida que a Época da Reionização se desenrolava.
Isto poderá revelar informações novas e críticas sobre as primeiras 
estrelas – os blocos de construção do Universo que vemos hoje. Mas 
observar qualquer vislumbre deste sinal com 12 mil milhões de anos é uma
 tarefa difícil que requer instrumentos com sensibilidade requintada.
Quando começou a operar em 2013, o MWA totalizava 2048 antenas de 
rádio dispostas no interior remoto da Austrália Ocidental. As antenas 
são agrupadas em 128 “blocos”, cujos sinais são combinados por um 
supercomputador chamado “Correlator”. Em 2016, o número de blocos 
duplicou para 256 e a sua configuração na paisagem foi alterada para 
melhorar a sua sensibilidade ao sinal do hidrogénio neutro. Este novo artigo é a primeira análise de dados da matriz expandida.
O hidrogénio neutro emite radiação no comprimento de onda dos 21 
centímetros. À medida que o Universo se expandia nos últimos 12 mil 
milhões de anos, o sinal da Época da Reionização foi esticado até cerca 
de 2 metros e é isso que os astrónomos do MWA estão à procura. O problema é que existem inúmeras outras fontes que emitem
 no mesmo comprimento de onda – fontes criadas pelo Homem, como 
televisão digital, bem como fontes naturais da Via Láctea e de milhões 
de outras galáxias.
“Todas estas outras fontes são muitas ordens de magnitude mais fortes
 do que o sinal que estamos a tentar detetar,” disse Pober. “Mesmo um 
sinal de rádio FM refletido por um avião que coincidentemente passa por 
cima do telescópio é suficiente para contaminar os dados.”
Para detetar o sinal, os investigadores usam uma infinidade de 
técnicas de processamento para eliminar estes contaminantes. Ao mesmo 
tempo, têm que ter em conta as respostas de frequência únicas do próprio
 telescópio.
“Se observarmos diferentes frequências de rádio ou comprimentos de 
onda, o telescópio comportar-se-á de maneira um pouco diferente,” disse 
Pober. “A correção da resposta do telescópio é absolutamente crítica 
para a separação dos contaminantes astrofísicos e do sinal de 
interesse.”
Estas técnicas de análise combinadas com a capacidade expandida do próprio telescópio resultaram num novo limite superior da força do sinal da Época da Reionização.
 É a segunda análise consecutiva do melhor limite até ao momento a ser 
divulgada pelo MWA e aumenta a esperança de que a experiência um dia 
detete o sinal elusivo da Época da Reionização.
“Esta análise demonstra que a atualização da fase dois teve muitos 
dos efeitos desejados e que as novas técnicas de análise melhorarão as 
análises futuras,” disse Pober. “O facto do MWA ter publicado os dois 
melhores limites consecutivos do sinal dá força à ideia de que esta 
experiência e a sua abordagem prometem muito.”
Fonte: https://zap.aeiou.pt/perto-sinal-da-alvorada-cosmica-294373

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