Com o Big Bang,
o material que constituiu o universo se dividiu na "matéria comum" (5%,
transformada de estrelas ao cachorro do vizinho), a matéria escura e a
energia escura (os outros 95%). Esses dois últimos são pouco conhecidos e
detectáveis; quanto à matéria comum, somente a metade dela já havia
sido detectada – até agora.
Uma equipe internacional de astrônomos do australiano Centro
Internacional de Pesquisa em Radioastronomia (ICRAR) usou estudos
anteriores das chamadas explosões rápidas de rádio (em inglês, fast radio bursts, ou FRBs) para detectar a "matéria faltante" do universo, encerrando uma busca de três décadas.
"Sabemos pelas medições do Big Bang quanta matéria havia no começo do
Universo, mas não conseguíamos encontrar a metade. O espaço
intergaláctico é muito escasso em matéria; a metade que faltava
equivalia a apenas um ou dois átomos em uma sala do tamanho de uma sala
comum e, por isso, muito difícil de detectar usando técnicas e
telescópios tradicionais”, disse o astrofísico Jean-Pierre Macquart,
autor principal do estudo publicado agora na revista Nature.
Sinais misteriosos do céu
Os FRBs são explosões de sinais de rádio
carregadas de energia, cuja origem é o espaço profundo. São captadas
pelas 36 antenas do Australian Square Kilometer Arrometer Pathfinder (ou
ASKAP), um gigantesco conjunto de telescópios que vasculha o cosmos a
partir do interior da Austrália Ocidental.
Ainda não se sabe o que causa os FRBs – apenas que eles carregam uma
quantidade de energia monumental (a mesma que é liberada pelo Sol em 80
anos). Como essas explosões de rádios são esporádicas e não têm hora nem
lugar do espaço para acontecer, o ASKAP monitora continuamente uma
grande parcela do céu: são dez trilhões de medições por segundo, em
busca de rajadas de FRBs.
Nas últimas décadas, a busca, segundo Macquart, se concentrou em
regiões específicas do cosmos – o que, segundo o astrônomo, é “tentar
adivinhar o tamanho de um cachorro pela sua cauda". O uso dos FRBs,
porém, possibilita olhar o cão inteiro. "O que os FRBs fazem é ir além
dos trechos do espaço onde outras técnicas não vão."
Ondas "sujas"
As ondas de rádio carregadas de energia atravessam extensões do
espaço que, se daqui parecem vazias, estão na verdade cheia de
partículas como elétrons. À medida que as ondas de rádio viajam pelo
cosmos, elas interagem com elétrons livres, ‘manchando’ o sinal de
rádio. É essa ‘mancha’ que se mostrou fundamental para encontrar a
matéria que faltava.
Ao atravessar a matéria, os diferentes comprimentos de onda que compõem os FRBs desenvolvem velocidades diferentes.
"A radiação dessas rajadas rápidas de rádio
se espalha pela matéria que falta da mesma maneira que as cores da luz
solar se separam em um prisma. Só precisávamos de seis para encontrar a
matéria que faltava", disse Macquart, em comunicado da ICRAR.
Mapa mais fiel do Universo
O objetivo agora é usar a nova técnica não apenas para rastrear mais
FRBs como para observar o cosmos mais detalhadamente, mapeando a chamada
teia cósmica – os filamentos que unem o Universo.
“Em cinco anos, pelo menos mais cem FRBs serão usados para montar um
mapa mais fiel do universo real", espera o astrônomo da Universidade da
Califórnia e coautor do estudo, Xavier Prochaska.
O ASKAP continuará a ser a ponta de lança na busca das rajadas rápidas de rádio.
Segundo Macquart, está sendo construída uma nova e mais poderosa
estação de observação, com uma taxa de detecção de FRBs 20 vezes maior
que as máquinas atuais. “Isso vai permitir que captemos cem rajadas no
período de um ano”, disse o astrônomo.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/114697-cientistas-encontram-materia-perdida-do-universo.htm
Sem comentários:
Enviar um comentário