Brigadas criadas por camponeses peruanos na década de 1980
para se defenderem de grupos rebeldes de esquerda, como o Sendero
Luminoso, foram reativadas com o objetivo de controlar o contágio de
coronavírus.
Segundo noticiou na segunda-feira o Diário de Notícias,
essas brigadas, compostas por camponeses das regiões dos Andes,
reúnem-se agora de forma mais pacífica para ajudar a controlar o vírus.
Tal acontece em quase toda a América Latina, o Peru regista um número
elevado de infeções, contabilizando até à data 230 mil casos e cerca de 6700 mortes.
Como mostrou o Mundo no Twitter, as “rondas campesinas”
impõem a ordem através punições, atos que incluem chicotadas. “De acordo
com o crime cometido, podemos punir com chicotadas”, disse Aladino
Fernández, presidente de uma das brigadas, em Cajamarca, numa conversa
telefónica com a Reuters. “Um crime grave pode levar a cerca de 15 chicotadas”, exemplificou.
As brigadas englobam pessoas eleitas numa assembleia popular, que
resolvem casos de justiça peculiares – infidelidades e roubos de
galinhas – e aplicam castigos a autarcas, juízes e outros “maus
funcionários”.
Desde que a quarentena foi declarada, em março, as rondas camponesas
de Cajamarca – na parte central norte do país – fecharam as fronteiras e
impuseram o isolamento social da população. Na região, a pandemia está sob controlo.
O ministro da Defesa, Walter Martos, disse que Cajamarca regista
1.279 casos e 16 mortes, numa população de 1,3 milhão de habitantes, uma
das regiões mais populosas. Já no sul de Puno, com 1,2 milhão de
habitantes, há 566 infeções e 13 mortes. Nesta região, as rondas também
assumiram o controlo após o início da quarentena.
“Para a pessoa se corrigir, de acordo com os nossos avós, tem que haver três chicotadas. Se houver duas, a pessoa não se corrige, essa é a crença”, disse Vinter Apaza, presidente das brigadas de camponeses de Puno.
Durante o período da quarentena, forma punidos autarcas, policias
corruptos e diretores de saúde que não cumpriram a restrição. As
atividades das brigadas são reconhecidas pela lei e desempenharam um
papel importante na luta contra os insurgentes do grupo maoísta do
Sendero Luminoso, que queriam chegar ao poder com armas no final do
século passado.
No combate ao vírus, as autoridades tiveram dificuldades em impor
restrições nas cidades do litoral e da Amazónia, como Lima, Piura e
Lambayeque, que contam entre milhares e centenas de mortes, hospitais a
transbordar e escassez de medicamentos e oxigénio.
https://zap.aeiou.pt/brigadas-camponeses-peruanos-quarentena-chicotada-330158
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