Arqueólogos da Universidade de Staffordshire investigaram pela primeira vez, desde 1945, o único campo de concentração
em terras britânicas. Utilizando equipamento moderno e não invasivo, a
equipe usou pesquisas geofísicas e LiDAR – uma tecnologia ótica de
detecção remota.
O arquipélago chamado Ilhas Channel fica na costa norte da França e foi o único território britânico ocupado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Nessa área remota e pacata, encontra-se a ilha de Alderney, que recebeu
diversos campos de trabalho forçado e dois campos de concentração. Um
deles, conhecido como Sylt ou Lager Sylt, foi o primeiro local de estudo
dos pesquisadores.
Reconstrução 3D de Sylt: A) 1942; B) 1943; C) 1944; D) 2017
Segundo documentos descobertos da Schutzstaffel
– uma organização paramilitar nazista conhecida como "SS" –, 103
pessoas morreram em Alderney. Porém, diversos registros não oficiais
mostram que o número é muito maior, alcançando pelo menos 700 mortes.
Inicialmente, a ilha era utilizada pelos nazistas para abrigar
trabalhadores e prisioneiros do leste europeu, mas, após o controle da
SS em 1943, o local recebeu 2 campos de concentração com condições ainda
mais precárias. Mais de 200 pessoas foram vítimas de doenças
infecciosas disseminadas por piolhos, pulgas e ácaros.
A pesquisa foi endossada por um antigo prisioneiro do campo de
concentração, Wilhelm Wernegau, que afirmou: "No meu quarto havia cerca
de 150 homens ou mais. Havia mais ou menos isso em cada quarto...
Tínhamos cobertores de palha e, durante todo o tempo em Alderney,
sofremos terrivelmente com os piolhos".
Fotogrametria do túnel e da sala subterrânea que ligava a casa do comandante ao campo
O estudo também mostra a disparidade entre os tipos de construção
existentes nos campos de concentração. Enquanto os abrigos dos
prisioneiros eram sujos e de madeira, os estábulos dos cavalos da SS
eram construções robustas e bem feitas. Um local chamou a atenção dos
arqueólogos por ser um túnel que ligava o campo de concentração à casa
do comandante. Apesar do motivo de sua existência ainda ser
inconclusivo, acredita-se que era usado para o tráfico de mulheres.
A história de Alderney ainda é um assunto muito delicado para os
moradores da região. Enquanto alguns querem imortalizar a história do
povo que sofreu na Grande Guerra, outros só querem esquecer tudo que
aconteceu no passado.
"As abordagens históricas, forenses e arqueológicas finalmente
ofereceram a possibilidade de descobrir novas evidências e dar voz
àqueles que sofreram e morreram em Alderney há muitos anos", disse
Caroline Sturdy Colls, professora da Universidade de Staffordshire.
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