Um estudo recente revelou que quase 30% dos norte-americanos
acreditam que a Covid-19 foi criada por humanos em laboratório. E quase
um quarto dos entrevistados defendeu que essa criação foi intencional.
Enquanto os especialistas continuam as pesquisam sobre as origens do
coronavírus, neste momento, a comunidade científica acredita que a
Covid-19 provavelmente chegou aos humanos através dos morcegos, tendo como intermediário outro animal, ainda desconhecido, apontou o Vox.
Contudo, um estudo recente do Pew Research Center
revelou que quase 30% dos norte-americanos acreditam que a doença foi
criada por humanos em laboratório. Embora os resultados dessa pesquisa
possam parecer surpreendentes, refletem a dificuldade em transmitir
informações precisas sobre a pandemia aos que mais necessitam.
Nesta análise, foi perguntado a 8.914 adultos norte-americanos se
acreditavam que a atual pandemia de coronavírus “surgiu naturalmente,
foi desenvolvida intencionalmente num laboratório, foi feita
acidentalmente num laboratório ou não existe”.
Apenas 43% escolheram “surgiu naturalmente”,
enquanto 23% disseram que o vírus foi criado intencionalmente. Outros
6% responderam que este foi criado acidentalmente e 1% afirmou que o
vírus não existe de fato. A pesquisa, realizada entre 10 a 16 de março,
tem uma margem de erro de 1,6 pontos percentuais.
Estas opiniões surgiram apesar de 70% dos entrevistados ter indicado
que a comunicação social tem estado a cobrir “muito bem” ou “bem” a
crise de coronavírus.
De acordo com o Vox, estas conclusões sugerem que as teorias
da conspiração se têm infiltrado nas notícias – ou que os jornalistas
não estão a fazer o suficiente para explicar de maneira clara e
convincente o que se sabe sobre as origens reais do vírus.
A crença de que a Covid-19 foi criada por humanos decorre de
especulações levantadas por alguns cientistas durante os primeiros dias
do surto. Na altura, a hipótese foi apontada devido ao facto de nem
todos os primeiros casos de infetados frequentar o mesmo mercado de
animais em Wuhan, na China. Os cientistas propuseram então que a origem
poderia ter sido um laboratório chinês onde os humanos trabalhavam com morcegos.
Ao Washington Post, o microbiologista Richard Ebright especulou
que o vírus poderia ter passado para humanos num acidente laboratorial,
“uma infeção acidental de um trabalhador do laboratório”, por exemplo.
Essa hipótese foi publicada em vários meios de comunicação e rapidamente
evocada por algumas autoridades do governo, incluindo membros do
executivo do primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
No entanto, não existem evidências científicas que apoiem essa
hipótese, que parece ter sido reforçada pela proximidade entre um
laboratório do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças e o
mercado animal de Wuhan. O consenso científico aponta que o vírus chegou
aos humanos por meio de contato natural com animais.
Mas à medida que essa teoria se espalhou, formou uma variante: uma
conspiração de que o vírus não só veio de um laboratório, como foi intencionalmente criado.
A jornalista do Vox, Eliza Barclay desconstruiu
essa teoria da conspiração em março, observando quão amplamente esta se
espalhou entre especialistas de direita e como os meios de comunicação
chineses estavam a trabalhar para desmascará-la. A popularidade desta
teoria entre a direita fazia parte da onda contínua de xenofobia
dirigida à China logo após o surto. Outra versão da teoria, expressa por
pelo menos um funcionário chinês, indicava que o vírus vinha de um
laboratório nos Estados Unidos (EUA).
Independentemente do país no qual essas teorias da conspiração sejam favoráveis, continuou o Vox,
as suas variantes apareceram ao lado de fatos reais sobre o vírus,
divulgados por meios de comunicação e figuras de autoridade.
Para o Vox, um fator mais complicado na disseminação de
falsas crenças nos EUA é o papel que o próprio governo de Donald Trump
desempenhou, subestimando, minando e repreendendo os esforços para levar
a sério a pandemia, com o Presidente norte-americano a disseminar
repetidamente afirmações falsas ou infundadas sobre o vírus.
Considerando as alegações de Trump, não surpreende que a media de
direita que apoia o Presidente também tenha subestimado a seriedade do
vírus. Isso, no entanto, teve consequências. Uma pesquisa de março
mostrou que a maioria dos telespectadores da Fox News acha que o medo do coronavírus é exagerado.
Esse tipo de desinformação, porém, pode ter resultados fatais. As
pessoas com maior probabilidade de acreditar nas teorias da conspiração
sobre a Covid-19 são as mais propensas a morrer do vírus.
Segundo o Pew Research Center, os entrevistados que tinham o
ensino básico ou menos, assim como os que se identificaram como negros e
latinos, eram mais propensos a acreditar que os humanos criaram a
Covid-19. Dada a história sistematicamente desigual dos cuidados de
saúde nos EUA, não é de admirar que as minorias possam desconfiar do que os cientistas e as autoridades de saúde lhes dizem sobre o vírus, frisou o Vox.
Mas essa desigualdade, combinada com a preparação e proteção
inadequadas do governo, significa que são essas as populações com maior
probabilidade de morrer por exposição ao vírus. Em 11 de abril, por
exemplo, 41% das mortes relacionadas à Covid-19 em Michigan eram negros,
apesar de estes representarem apenas 14% da população daquele estado.
É mais provável que as pessoas mais necessitadas, a classe
trabalhadora e as minorias tenham um acesso desigual aos cuidados e
seguro de saúde, estejam localizados em zonas de perigo onde há maior
poluição do ar e trabalhem em empregos que os colocam em maior risco de
exposição.
O estudo demonstrou que, apesar da maioria das pessoas confiar nos
media para fornecer fatos precisos, as mais vulneráveis à Covid-19
ainda não obtêm todas as informações necessárias. O ceticismo
em relação ao coronavírus já causou estragos nos esforços de alguns
estados para combater a pandemia, visto que para limitar a propagação do
vírus são precisas ações do governo mas também individuais, sublinhou o
Vox.
https://zap.aeiou.pt/um-terco-americanos-teorias-conspiracao-covid-19-318906
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