Em ciência,
certezas não existem porque, a qualquer momento, novas evidências
surgem para implodir tudo o que se acreditava como certo. Dessa vez,
elas apareceram em Jack Hill (Austrália), um afloramento rochoso
conhecido por reunir as rochas mais antigas do planeta, contendo
minúsculos cristais de um mineral resistente chamado zircão. Por sua
vez, estes são lascas de um bloco ainda mais antigo, as chamadas rochas
hadeanas, que datam de 4,2 bilhões de anos, formadas a partir do magma
resfriado.
Esses cristais preservam evidências de um antigo campo magnético, de
acordo com uma equipe internacional de pesquisadores, liderada pelo
geofísico da Universidade de Rochester John Tarduno. Segundo as análises
do grupo publicadas em janeiro, nosso escudo protetor surgiu 750
milhões de anos antes do que hoje se acredita.
"Nem todos estão convencidos desse resultado, porque isso jogaria
para trás a data de nascimento aceita do campo magnético da Terra, que é
de 3,5 bilhões de anos. Há pesquisadores tentando provar que nossas
conclusões estão erradas, mas isso faz parte da ciência", disse Tarduno à
Science Mag.
Zircões são cristais encontrados nas rochas mais antigas do planeta.
O grupo citado é formado por cientistas do Massachusetts Institute of
Technology (MIT), que concluíram que zircões talvez não sejam
confiáveis como gravadores de campos magnéticos antigos.
Um dos autores do artigo publicado agora na Science Advances,
Caue Borlina (Ph.D. em Ciência Planetária e, atualmente, aluno do
Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias do MIT)
explica que “entre 4,4 bilhões e 3,5 bilhões de anos, a vida surgiu na
Terra. O fato de existir nessa época um campo magnético tem implicações
para o ambiente no qual a vida floresceu no planeta.”
Mistério sobre o que havia antes
A cada segundo, o Sol lança em nossa direção 1,5 milhão de toneladas
de material – plasma e gás eletrificado. Viajando a centenas de
quilômetros por segundo, esse incessante vento solar atinge a Terra há
mais de 4 bilhões de anos mas, graças ao campo magnético do planeta, ele
é desviado para o espaço aberto.
Primeiro, acreditou-se que o campo magnético teria sido gerado quando
o núcleo do planeta esfriou e se cristalizou, há um bilhão de anos. O
ferro líquido onde está mergulhado o coração da Terra acompanha a
rotação do planeta, criando correntes elétricas que são a origem do
campo de ondas magnéticas que se estende espaço adentro.
Porém, se o campo existe há 3,5 bilhões de anos, algo antes de o
núcleo tornar-se sólido gerava as ondas magnéticas, e é isso que os
cientistas estão tentando descobrir: quando nosso escudo protetor se
formou. "Não há ainda evidências sólidas de um campo magnético antes de
3,5 bilhões de anos atrás e, mesmo que houvesse um, será muito difícil
encontrar evidências”, explica Borlina.
Hipnótica maré de metal líquido
Na impossibilidade de se estudar in loco o interior da
Terra, resta aos cientistas criarem simulações no computador. Uma das
mais conhecidas foi feita por pesquisadores do Instituto de Ciências da
Terra, na França, e mostra a sopa de ferro e níquel fundidos em
diferentes temperaturas formando vórtices e fluxos de material nem
sempre uniformes.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/114200-idade-do-campo-magnetico-da-terra-divide-a-ciencia.htm
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