Nos anos 1920, o arquiteto alemão Herman Sörgel desenvolveu um plano
no qual acreditava ter a resposta para os fins dos conflitos no planeta
Terra: a criação do supercontinente "Atlantropa". A ideia mirabolante
uniria África e Europa em uma tentativa de aumentar o território
habitacional humano.
Naquela época, o mundo encontrava-se
devastado e ainda tentando se resgatar dos destroços deixados pela
Primeira Guerra Mundial. Sörgel, então, avistou a possibilidade de
desenvolver um plano que fosse capaz de atenuar os conflitos políticos
que se espalhavam pelos continentes e trazer paz para todos.
Por
mais absurdo que pareça, o planejamento criado pelo alemão foi levado a
sério por instituições públicas até meados de 1950, quando o projeto
perdeu forças. Sörgel acreditava que a existência de mais terra fértil
para plantações seria suficiente para acabar com o caos humano.
A Panropa de Herman Sörgel
(Fonte: Wikimedia Commons)
Antes
de chegar no nome Atlantropa, o projeto nasceu com o batismo de
"Panropa". Aos 42 anos de idade, Sörgel se inspirava em construções como
o Canal de Suez — uma via navegável artificial que liga o Mediterrâneo
ao Mar Vermelho — para basear sua criatividade.
E como
funcionária a elaboração do supercontinente? A comunidade internacional
construiria barragens em diversas regiões da área, como no Estreito de
Gibraltar e no Estreito do Silício, que formariam uma enorme estrada
conectiva entre a Europa e a África.
Na
visão de Sörgel, a construção abriria espaço para mais de 660 mil km²
de terra fresca e pronta para a plantação, que usariam da energia
hidrelétrica gerada pelas novas represas para fornecer eletricidade para
mais de 250 milhões de pessoas todos os dias.
Com espaço, energia
e irrigação abundante, o supercontinente estaria preparado para gerar
uma quantidade de alimentos infinita para toda a população. Por
consequência, os conflitos e disputas territoriais ao redor da Terra
chegariam ao fim.
A fundamentação da Atlantropa e a divulgação em massa da ideia
(Fonte: Wikimedia Commons)
A obra de Herman Sörgel surge de um conceito alemão chamado de Lebensraum (em
português, Espaço Vivo). O conceito, que posteriormente faria base da
ideologia Nazista, acreditava que a característica principal para a
prosperidade de um povo seria a abundância territorial.
Na visão de diversos europeus daquela época, o espaço existente naquele momento dentro do continente seria insuficiente para atingir as demandas da população. E, assim, a ideia foi ganhando força.
Em 1929, Sörgel lançou o livro Abaixando o Mediterrâneo, Irrigando o Saara: o projeto Panpora. Não demorou muito para que a "solução universal" começasse a se espalhar pela Europa e também pela América do Norte.
O
conceito parecia cada vez mais palpável depois que projetos
arquitetônicos como a inundação do Tennessee Valley e a construção da
Barragem Hoover tiveram sucesso na década de 1930.
Posteriormente,
o projeto também daria palco para a criação de filmes e romances
inspirados pelo plano mirabolante e alcançaria os grande holofotes da
mídia mundial.
Racismo e nazismo: o lado sombrio de Sörgel
(Fonte: Wikimedia Commons)
Engana-se quem acredita que Herman Sörgel era um ser humano de caráter ímpar dentro da sociedade nazista
alemã. Ao contrário de seus compatriotas, seus problemas não eram com
os judeus, mas sim com as populações africanas e asiáticas.
O
projeto Atlantropa tinha uma boa quantidade de racismo enraizado em sua
concepção. O plano de Sörgel era simples: as barragens impediriam que as
religiões asiáticas encontrassem seus caminhos dentro do novo
supercontinente e a soberania europeia poderia continuar a reinar.
Além
disso, a criação de barragens automaticamente significaria que a água
escoada teria que inundar outras regiões. Não somente o Saara seria
irrigado, mas também regiões da África Central — onde milhões de pessoas
residiam — seriam destruídas e, com elas, milhares de vidas seriam
levadas.
Para Sörgel isso pouco importava. Na Atlantropa, os
europeus brancos seguiriam como a raça dominante e usariam da mão de
obra escrava africana para desenvolver o supercontinente.
Falta de apoio do partido nazista e fim do projeto
Ganhando
força dentro da Alemanha, o partido nazista já tinha grande poder
dentro das decisões políticas no país. Sörgel levou seu projeto até a
alta cúpula nazista e viu seu sonho ser rechaçado. Ao focar na África
Central, o arquiteto não conquistou o interesse de Adolf Hitler, focado
em acabar com as forças soviéticas.
Sem apoio político e
financeiro, Sörgel viu seu sonho ficar cada vez mais distante. A Segunda
Guerra trouxe a criação das usinas nucleares, o que fez com que a
energia hidrelétrica perdesse espaço dentro da Europa.
Em Dezembro
de 1952, aos 67 anos, Sörgel foi atropelado enquanto pedalava sua
bicicleta pelo campus da Universidade de Munique, matando-o. Oito anos
depois, o Instituto Atlantropa fecharia as portas pela última vez,
enterrando os últimos resquícios de um dos planos mais malucos da
história da humanidade.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/115255-atlantropa-o-supercontinente-que-juntaria-africa-e-europa.htm
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