Na Coreia do Sul, milhares de jovens casais adiaram o registo do seu casamento durante anos na esperança de obter acesso a uma casa, num altura em que há falta de oferta habitacional.
De acordo com o jornal sul-coreano Chosun Ilbo, alguns casais sul-coreanos podem estar a morar juntos após realizar cerimónias de casamento “informais” e a adiar o registo do matrimónio para facilitar a compra da sua primeira casa.
Os preços dos imóveis aumentaram constantemente desde que o presidente Moon Jae-in assumiu o cargo em 2017, uma tendência que tornou a compra da primeira casa muito menos viável para os sul-coreanos.
Embora existam opções de habitação acessível para casais jovens, há longas listas de espera e as famílias onde marido e mulher têm empregos de tempo integral podem não se qualificar.
Além disso, alguns casais disseram ao mesmo jornal que teriam uma hipótese maior de conseguir um novo apartamento se se inscrevessem separadamente em vez de como uma unidade familiar.
Assim, depois do grande dia, há casais que optam por não registar o casamento na esperança de conseguir uma habitação acessível mais rapidamente ou para evitar o pagamento de altos impostos.
As últimas estatísticas do governo coreano indicaram que um total de 213.513 casais casaram-se no ano passado, o que representa uma queda de 10,7% em relação a 2019 e o menor número de casamentos no país desde 1981.
A assistente de escritório Im Seo-yeon, de 31 anos, disse, em declarações ao Insider, que ela e o seu parceiro de 36 anos não se qualificam para nenhum subsídio e recorreram ao aluguer de um apartamento nos arredores de Seul porque não conseguem pagar nada mais perto do centro da cidade. O casal não registou o casamento, na esperança de conseguirem habitação acessível mais rapidamente, inscrevendo-se apenas no nome dela.
“É muito caro e muito difícil encontrar um bom lugar para morar num bom distrito de Seul. Estamos muito felizes no nosso apartamento alugado por enquanto, mas estou ansiosa pelo dia em que possamos ter uma casa própria”, disse.
Já David Min, de 29 anos, que trabalha na indústria de transporte e logística, disse que teve uma cerimónia de casamento “informal” com a sua esposa há um ano, mas não registou o casamento porque “não conseguiam pagar uma casa ainda”.
“Ainda não temos poupanças suficientes para comprar um apartamento juntos. Portanto, não há pressa em registar oficialmente o nosso casamento, já que o direito a benefícios de habitação fornecidos pelo governo dura apenas sete anos”, disse Min. “Estou a pensar em comprar uma casa em meu nome se isso significar que subiremos mais depressa na lista de espera”.
Num outro caso, um recém-casado de 34 anos que mora em Seul contou ao jornal sul-coreano que estava casado há três anos, mas ainda não tinha registado o casamento porque estava a tentar evitar os altos impostos que o casal teria de pagar se o fizesse. Ambos compraram casas antes de se casarem e teriam de pagar impostos exorbitantes como proprietários de várias casas se registassem a sua união.
“Os impostos aumentaram para pessoas que possuem mais de uma casa e os casais recém-casados ficam isentos do imposto de transferência por apenas cinco anos se venderem uma das suas casas”, disse o homem. “Pretendo vender um assim que vir o quanto os preços sobem.”
Jeong-Woo Koo, professor do Departamento de Sociologia da Universidade Sungkyunkwan, explicou ao mesmo jornal que o governo sul-coreano precisa de examinar “por que este fenómeno está a acontecer e encontrar soluções”. “O facto de os casais adiarem o registo do seu casamento mostra o quão mau é a falta de habitação, sem mencionar o aumento vertiginoso dos preços dos apartamentos”, disse Koo.
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